Roberta é jornalista e trabalha em modelo homeoffice. Com a pandemia da Covid-19, ela e o filhos passaram a ficar mais tempo juntos em casa, e as suspeitas ficaram maiores.
“Foi justamente na pandemia quando eu vi que, realmente, ele se comportava de uma maneira muito ágil, muito diferente das outras crianças, e aí eu fui buscar informação.”
Em 2021, Roberta e o pai do garoto, Leonardo Morgado, tomaram a decisão de procurar uma neuropsicóloga. Na época, Filippo, com 4 anos e 7 meses, foi submetido ao teste de QI com a metodologia do Son-R (não verbal), e teve o resultado: o menino alcançou o percentil de 99% em laudo e QI 134, comprovando a superdotação. O teste ainda revelou que Filippo tem idade cognitiva de uma criança de 7 anos e 8 meses.
A profissional responsável pelo diagnóstico de Filippo também resolveu aplicar o Wisc IV para entendimento melhor do caso, ainda que este segundo teste só possa ser feito em crianças acima de 6 anos. Filippo foi submetido ao teste como treineiro, e o resultado comprovou as habilidades que a mãe já notava.
“No laudo, ele foi mais pontuado em aritmética, raciocínio lógico e memória. São os três pontos que ele foi acima da média para a idade dele. Além disso, o resultado mostrou que ele tinha, no ano passado, a idade cognitiva de 7 anos e 8 meses. Justamente por essa questão que ele pontuou muito alto na resolução de problemas de matemática”, destacou a mãe.
Filippo de Castro Morgado brinca de fazer cálculos em sua casa — Foto: Arquivo pessoal
Roberta destaca que, ao contrário do que muitos pensam, o laudo sobre a superdotação foi algo que trouxe mais responsabilidades para o cuidado do filho.
“Muitas vezes acham que a superdotação é a galinha dos ovos de ouro, mas não sabem o que é quando ele tem um problema emocional, porque aquilo que ele pensou não aconteceu. Essas crianças tendem a ter uma frustração muito grande.”
A mãe ressalta que a intensidade de Filippo nos estudos também desafia a inteligência dos próprios pais, que precisam se empenhar para alcançar o pequeno gênio.
“Essa semana ele está na casa do pai, mas ele foi para lá dizendo que o pai dele tinha que ensinar para ele raiz quadrada de números negativos. Eu falei graças a Deus que não sou eu. Essa tarefa vai ficar para o pai dele, mas é nesse nível”.
Filippo e o pai, Leonardo Morgado
Com as demandas do filho, os pais têm contado com ajuda para garantir o atendimento educacional e psicológico de que o garoto precisa. Segundo Roberta, os próprios testes a que Fillipo foi submetido foram parcialmente doados pela neuropsicóloga que o atendeu.
Roberta ressalta que uma das suas maiores preocupações era encontrar uma escola estruturada para que Filippo, prestes a entrar em idade escolar, pudesse se desenvolver com qualidade. Ela resolveu pedir ajuda e conseguiu uma bolsa em uma instituição privada.
“A instituição em que Filippo está hoje tem uma metodologia ativa que, ao mesmo tempo que ele faz parte do todo, ele também tem atendimento individualizado. Então isso, graças a Deus, tem feito ele todos os dias ir para a escola muito feliz.”
Atualmente, o garoto também conta com aulas particulares como bolsista de uma empresa de educação infantil domiciliar. Assim, duas vezes por semana, educadoras vão à sua casa, depois da aula de Filippo, para ajudá-lo com deveres de casa, além de oferecerem atividades que auxiliam no desenvolvimento dele.
Filippo de Castro Morgado, de 5 anos, mais novo integrantes do clube mundial de pessoas com alto QI — Foto: Arquivo pessoal
O conceito de altas habilidades/superdotação só passou a fazer parte da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), que regulamenta a educação no país, em 2013.
No Brasil, há 24.424 estudantes com altas habilidades/superdotação, segundo oCenso Escolar. Este número, no entanto, é pequeno se comparado à estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS), de que 5% da população mundial tem algum tipo de alta habilidade.
“Infelizmente a gente tem um problema de política pública de não fazer esse Censo, de não saber quanto somos, de não nos ajudar. É por isso que as escolas hoje fazem vista grossa para uma criança dessas”, comentou Roberta.
Atualmente, a mão de Filippo administra um grupo com 62 famílias do Brasil e do mundo com filhos superdotados, onde ela comenta receber queixas constantes sobre o tratamento que as crianças recebem nas escolas.
“Eu estou com 62 mães no meu grupo. Pelo menos 30 delas não têm um filho na escola que gostaria de ter. Está matriculado na escola, passando raiva. Toda semana é chamado pela diretora, porque o menino terminou a tarefa, está fazendo bagunça.”
No grupo que funciona como um fórum, Roberta convida neuropsicólogos, psicólogos e pediatras voluntários para tirar dúvidas dessas famílias sobre o tema.
“Isso para mim é a maior vitória da minha vida. Poder dar um acalanto para essas mães porque eu passei por isso também.”