Entenda o que é leucoplasia, diagnóstico apontado em exame de Lula

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passou por exames, em São Paulo. O Hospital Sírio-Libanês afirmou em nota que o presidente eleito foi diagnosticado com “alterações inflamatórias decorrentes do esforço vocal e pequena área de leucoplasia na laringe”.

Durante a campanha, Lula apresentou rouquidão em várias ocasiões e chegou a mencionar que estava sendo acompanhado de perto por sua fonoaudióloga, que exigia que o então candidato do PT tomasse água durante os discursos.

O comunicado do hospital informou ainda que os exames de imagens “estão normais e seguem mostrando completa remissão do tumor diagnosticado em 2011”. Naquele ano, Lula iniciou tratamento contra um tumor maligno na laringe.

Metrópoles entrevistou o oncologista e oncogeneticista Bruno Filardi, que comentou em suas redes sociais sobre o quadro de leucoplasia de Lula, doença que afeta 100 em cada 100 mil homens.

O especialista falou sobre fatores de riscos relacionados à doença, como já ter tido câncer na laringe e consumo de bebida alcoólica – a reportagem do Metrópoles mostrou que no lixo da casa de Lula foram descartadas muitas garrafas de vinho durante a semana que antecedeu o casamento do ex-presidente com a socióloga Rosângela da Silva, conhecida como Janja, realizado em maio.

O que chamou a sua atenção no diagnóstico de Lula?
Eu não estou avaliando especificamente o diagnóstico do Lula, porque ele já está sendo atendido por uma ótima equipe e também por questões éticas. Mas, como divulgador científico, eu quis esclarecer alguns pontos. Existem vários tipos de leucoplasia. Uma, por exemplo, é mais plana e menor. A outra é maior e mais irregular e com maior volume.

A nota dos médicos dá a entender que tanto pode ser o primeiro como o segundo caso. Pela descrição, a chance de que seja um câncer ou algo assim é menor. O mais provável é que seja uma hiperplasia, que é uma proliferação, ou algo com algum sinal de displasia, que seria um caminho intermediário entre a célula normal e a de câncer.

O que são hiperplasia e displasia na oncologia?
Quando você tem um insulto [lesão] em algum tecido na região da cabeça e do pescoço, ele é ecológico, geralmente. Ou seja, motivado por fatores externos, como tabagismo, consumo de bebida alcoólica, radioterapia que já foi feita na região ou infecção por HPV.

A primeira reação do tecido é a proliferação do epitélio dessa região mais superficial, que a gente chama de hiperplasia.

Quando você começa a ter alterações nessas células do ponto de vista morfológico — você vê que ela é uma célula acumulada anormal –, isso é uma displasia.

Um terceiro estágio é a neoplasia, que seria um tumor maligno, um câncer. Isso é um contínuo, essas lesões começam como hiperplasia.

O risco da leucoplasia se tornar câncer aumenta de 10% para 20% quando o paciente já teve um tumor maligno anteriormente?
É difícil estimar o risco individual. É necessário olhar para um grupo. Uma série de fatores influencia. Por exemplo, se a pessoa continua se expondo mais ou menos aos fatores ecológicos que acabaram promovendo a carcinogênese, como o tabagismo.

Em geral, as pessoas que tiveram um tumor na região de cabeça e pescoço têm uma chance de 20%, em dez anos, de voltarem a ser acometidas por um segundo câncer na região, que envolve até o pulmão. É um fenômeno que a gente chama de cancerização de campo.

Consumir bebida alcoólica pode agravar o quadro de leucoplasia? Aumenta a probabilidade da leucoplasia evoluir para câncer?
O câncer de cabeça e pescoço tem alguns fatores de risco, como cigarro e consumo de bebida alcoólica. E eles têm um efeito sinérgico, ou seja, eles se somam. Quem só fuma tem um risco, quem só bebe tem outro e quem fuma e bebe tem um risco maior, somado.

Radioterapia prévia na região também é um risco, infecção por HPV, obesidade, consumo de alimentos ultraprocessados, comer muita carne vermelha e excesso de sal são outros. Existe uma série de riscos e eles vão se somando. Ninguém está pedindo para ser radical com essas coisas, estamos falando dos excessos.

Dentro desse quadro que você avaliou, quais são as recomendações para o paciente que recebe esse diagnóstico? Quais são os próximos passos do tratamento?
Foi feito um exame de detecção precoce e já vão tratar ou fazer a retirada dessa lesão. Se for um tumor no início, vamos dizer assim, uma hiperplasia com displasia, é só você retirar essa essa leucoplasia superficialmente e já está tratada.

Se for uma leucoplasia bastante pequena, mais superficial, mais plana, o procedimento de retirada já é feito durante o exame de imagem. O material é enviado para a biópsia, para avaliar se havia apenas hiperplasia, ou hiperplasia com displasia etc. Isso, inclusive, vai nortear a periodicidade dos próximos exames.

No entanto, em casos mais graves, como no terceiro estágio que mencionei anteriormente, não é possível tratar apenas com endoscopia. Se for tumor, é necessário fazer um ressecção maior, por exemplo.

O quadro de Lula foi diagnosticado com uma nasofibroscopia, esse exame é de fácil acesso?
Uma pessoa com rouquidão persistente, dor para engolir, dor crônica no ouvido, dor ou lesão na boca, sintomas relacionados a câncer de cabeça e pescoço, tem indicação para fazer a fibroscopia.

Se esses sintomas são persistentes ou se essa pessoa tem um histórico de tabagismo ou consumo excessivo de bebida alcoólica, é mandatório que ela seja submetido a uma nasofibroscopia.

Esse exame é muito difícil de conseguir no SUS e, quando tem, o tempo de espera é super demorado. É uma falha do nosso sistema de saúde.

 

Fonte: Metrópoles

 

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