© Tânia Rego/Agência Brasil

Manifestantes protestam em capitais contra PL da Dosimetria

ANUNCIO COTIA/LATERAL

Movimentos sociais e populares mobilizaram milhares de pessoas em diversas capitais brasileiras, incluindo Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, neste último domingo, em um grande protesto contra o Projeto de Lei da Dosimetria. A proposta, aprovada recentemente pela Câmara dos Deputados, tem gerado intensa controvérsia por, supostamente, beneficiar indivíduos condenados pela tentativa de golpe de Estado ocorrida em 8 de janeiro de 2023, entre eles o ex-presidente Jair Bolsonaro. As manifestações, coordenadas por frentes como Brasil Popular e Povo Sem Medo, destacaram a indignação da sociedade civil frente a uma legislação que muitos consideram um passo atrás na responsabilização de atos antidemocráticos. A pauta não se restringiu à dosimetria, incorporando também outras preocupações sociais e políticas que ecoam nas ruas do país.

A controvérsia em torno do Projeto de Lei da Dosimetria

O Projeto de Lei da Dosimetria, em debate no Congresso Nacional, tornou-se um dos temas mais polarizadores da agenda legislativa recente. Sua aprovação na Câmara dos Deputados, ocorrida na madrugada da última quarta-feira, despertou uma onda de críticas e preocupações entre juristas, movimentos sociais e parte da opinião pública. A essência do projeto reside na alteração de critérios para a fixação de penas, o que, para seus oponentes, configuraria uma anistia “disfarçada” ou “velada” para aqueles envolvidos nos graves eventos de 8 de janeiro de 2023, quando as sedes dos três poderes em Brasília foram invadidas e depredadas em um ataque direto à democracia brasileira.

Detalhes do projeto e seus potenciais beneficiários

A principal preocupação com o PL da Dosimetria é a sua aplicação retroativa e a possibilidade de revisar sentenças já proferidas ou em andamento. Ao mexer com os parâmetros de dosimetria da pena, ou seja, a forma como a sanção é calculada e aplicada pelo juiz, o projeto poderia resultar na redução de penas para indivíduos já condenados ou réus por crimes relacionados à tentativa de golpe. Essa abrangência incluiria desde os executores diretos dos atos de depredação até figuras mais proeminentes, como o ex-presidente Jair Bolsonaro, que é investigado por sua suposta participação nos eventos. A interpretação de que o PL busca “passar uma borracha” sobre as consequências do 8 de janeiro tem sido um catalisador para a indignação social e os protestos. Muitos veem a iniciativa como uma afronta à Justiça e um desrespeito às instituições democráticas.

O embate legislativo na câmara

A tramitação do Projeto de Lei da Dosimetria na Câmara dos Deputados foi marcada por celeridade e pouca discussão pública aprofundada, segundo críticos. A aprovação em plenário, durante uma sessão noturna, intensificou as acusações de que o projeto estaria sendo “pautado nas sombras” para atender a interesses específicos. Líderes de oposição e parlamentares progressistas alertaram para o risco de enfraquecer a resposta do Estado a atos antidemocráticos, abrindo precedentes perigosos para a impunidade. A articulação dos movimentos sociais para convocar as manifestações foi uma resposta direta a essa percepção de que o Congresso estaria legislando contra a vontade popular e em benefício de uma agenda que questiona a estabilidade democrática.

A mobilização nacional: voz das ruas em diversas cidades

As manifestações contra o Projeto de Lei da Dosimetria reverberaram por todo o Brasil, mostrando uma articulação robusta de movimentos populares. De norte a sul, as vozes das ruas se uniram para expressar repúdio ao que é visto como uma tentativa de fragilizar a justiça e a memória dos ataques de 8 de janeiro. A amplitude geográfica e a diversidade de participantes evidenciaram a preocupação generalizada com o futuro da democracia no país.

Protestos pelo país: da manhã ao fim da tarde

O dia de mobilização teve início logo pela manhã em diversas capitais. Em Belo Horizonte, João Pessoa, Natal e Salvador, manifestantes se reuniram em pontos estratégicos das cidades, entoando palavras de ordem em defesa da democracia e contra a impunidade. Cartazes e faixas expressavam o descontentamento com o PL e a defesa do estado de direito. À tarde, a efervescência dos protestos ganhou força em outros grandes centros urbanos.

No Rio de Janeiro, a mobilização teve início por volta das duas da tarde em um icônico ato musical em frente ao posto 5, em Copacabana. O evento contou com a participação de renomados artistas da música popular brasileira, como Caetano Veloso, Paulinho da Viola e Gilberto Gil, que emprestaram suas vozes e prestígio à causa. A fusão da arte com o protesto pacífico atraiu uma grande multidão, transformando a orla carioca em um palco para a defesa da democracia. Em Brasília, capital federal, o ato teve a presença da Ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara. Em sua fala, a ministra não apenas criticou o PL da Dosimetria, mas também destacou os recentes ataques aos povos originários com a aprovação do Marco Temporal pelo Senado. O Marco Temporal, que restringe a demarcação de terras indígenas àquelas ocupadas até 1988, é visto como um grave retrocesso nos direitos territoriais e sociais dos indígenas, conectando as diferentes pautas de resistência.

Em São Paulo, a capital, a mobilização se concentrou em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista, um tradicional palco de grandes manifestações. Juliana Donato, representante da Frente Popular Povo sem Medo e uma das organizadoras do protesto, fez duras críticas à decisão do Congresso. Ela ressaltou a indignação da sociedade com a iniciativa de mudar a legislação para beneficiar os envolvidos na tentativa de golpe de Estado, enfatizando a necessidade de responsabilização. Outra participante, Cláudia Santana, expressou sua convicção de que a mobilização popular é uma forma essencial de a sociedade se posicionar ativamente em relação às decisões tomadas no Congresso, demonstrando que a voz do povo é um pilar da democracia.

Os organizadores e a pauta dos movimentos

Os atos foram convocados e coordenados por importantes movimentos populares e frentes progressistas, como a Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo. Essas organizações, com histórico de luta por direitos sociais e democracia, conseguiram mobilizar uma base diversificada de participantes, unindo diferentes setores da sociedade em torno de uma pauta comum. A mensagem central dos movimentos foi a defesa intransigente da democracia, a exigência de responsabilização para todos os envolvidos nos ataques de 8 de janeiro e o repúdio a qualquer tentativa de anistia ou enfraquecimento da justiça. Além disso, as manifestações serviram como um espaço para conectar essa pauta com outras preocupações sociais, como a defesa dos direitos indígenas e a crítica a políticas que afetam minorias e grupos vulneráveis.

Arlindo vendas de Apartamento

Os próximos passos no senado e o papel do relator

O Projeto de Lei da Dosimetria, após a aprovação na Câmara dos Deputados, agora segue para análise no Senado Federal, onde enfrentará uma nova etapa de debates e votações. Esta fase é crucial e decisiva para determinar o futuro da proposta, que continua a gerar controvérsia e mobilização popular. A expectativa é que o debate no Senado seja intenso, dada a gravidade das implicações do projeto para a justiça e a democracia brasileira.

Análise na comissão de constituição e justiça

O primeiro e mais importante obstáculo que o Projeto de Lei da Dosimetria terá que transpor no Senado é a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). A CCJ é o filtro constitucional do Congresso, responsável por analisar a conformidade de todos os projetos de lei com a Constituição Federal e com as normas jurídicas vigentes. Dada a natureza sensível e as possíveis implicações jurídicas do PL, a análise na comissão será rigorosa. Especialistas apontam que a proposta pode enfrentar questionamentos quanto à sua constitucionalidade, especialmente no que tange à retroatividade de leis penais e aos princípios de igualdade perante a lei e de segurança jurídica. O resultado da votação na CCJ será um forte indicativo do destino do projeto no plenário do Senado.

A postura do senador Esperidião Amin

A expectativa em torno do Projeto de Lei da Dosimetria no Senado é intensificada pela figura de seu relator na CCJ, o senador catarinense Esperidião Amin (Progressistas). Amin tem se posicionado publicamente de forma favorável à anistia total para os condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023. Essa postura antecipa um parecer que, provavelmente, será favorável à continuidade da tramitação do PL, o que aumenta a pressão sobre os demais membros da comissão. A defesa da anistia total por parte do relator coloca em evidência o profundo racha político e ideológico em torno da questão, prometendo um embate acalorado e de grande visibilidade. A sua posição, alinhada a um segmento da direita política, contradiz diretamente a pauta dos movimentos de rua e a visão de setores da sociedade que clamam por justiça e responsabilização.

Perguntas frequentes

O que é o Projeto de Lei da Dosimetria?
O Projeto de Lei da Dosimetria é uma proposta legislativa que visa alterar os critérios e métodos para o cálculo e a aplicação de penas em processos criminais. Ele busca modificar a forma como a sanção é determinada pelo juiz, o que pode ter impacto direto na duração e no regime de cumprimento das condenações, incluindo a possibilidade de reduzir penas já impostas ou em análise.

Quem são os principais beneficiários do PL da Dosimetria?
A principal crítica ao PL da Dosimetria é que ele beneficiaria, de forma direta ou indireta, os indivíduos condenados ou investigados pela tentativa de golpe de Estado ocorrida em 8 de janeiro de 2023. Entre os potenciais beneficiários estariam desde os executores diretos dos atos de depredação em Brasília até figuras políticas mais proeminentes, como o ex-presidente Jair Bolsonaro, que está sob investigação.

Quais são os próximos passos para o Projeto de Lei?
Após ser aprovado na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei da Dosimetria segue para o Senado Federal. Lá, ele será primeiramente analisado e votado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde sua constitucionalidade e legalidade serão avaliadas. Posteriormente, se aprovado na CCJ, o projeto poderá seguir para votação no plenário do Senado.

Mantenha-se informado sobre os desdobramentos deste importante debate legislativo e as mobilizações sociais que moldam o futuro da justiça e da democracia no Brasil.

Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br

Deixe uma resposta

Seu endereço de e-mail não será publicado.Os campos obrigatórios são marcados *

*

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.