© Tania Santana Madalena/arquivo pessoal

Festas de fim de ano: união de gerações e o papel ativo

ANUNCIO COTIA/LATERAL

As festas de fim de ano, em especial o Natal e o Réveillon, representam um período de profunda reflexão e reencontro. Para muitos, as celebrações são a oportunidade perfeita para reunir a família, fortalecer laços e construir novas memórias. Neste contexto, a integração de todas as gerações assume um papel crucial, especialmente para os idosos, que muitas vezes se tornam o centro afetivo desses encontros. A participação ativa da terceira idade não apenas enriquece a experiência de todos, mas também combate a solidão, promove a troca de saberes e garante que as tradições familiares sejam preservadas e adaptadas aos novos tempos, transformando cada celebração em um mosaico de experiências e afetos que transcende o tempo.

O valor da tradição familiar e o protagonismo dos idosos

Relatos de união e celebração

A vivacidade da tradição familiar é exemplificada por histórias como a de Olinda Castilho Escobal, uma paulistana de 81 anos. Para ela, as festividades de Natal são um dos pontos altos do ano, um momento para estar com seus entes queridos. A interação com filhos, netos e uma bisneta de dois anos é constante, com celebrações que incluem aniversários, passeios e jantares em restaurantes ao longo do ano. Para o Natal de 2025, a previsão é de uma “pizzaiada” na véspera e um churrasco no dia 25, tudo preparado na casa de Olinda, onde o filho montou uma estrutura especial. Ao todo, serão dez pessoas, incluindo a anfitriã, demonstrando a alegria e o planejamento envolvidos na união familiar.

No Rio de Janeiro, Tania Santana Madalena, de 80 anos, compartilha um entusiasmo semelhante pela reunião de seus filhos, genros, noras e netos. Seu hábito de celebrar em conjunto remonta à juventude, quando se reunia com as cunhadas na casa da sogra aos domingos. Essa prática criou laços fortes, com os filhos crescendo como irmãos. A tradição de passar a véspera de Natal na casa de sua mãe e o dia 25 com a sogra é mantida até hoje, perpetuando o reencontro de diversas gerações. Essas narrativas ressaltam o profundo significado das festas de fim de ano, que vão além de meras datas no calendário, tornando-se pilares da identidade e coesão familiar.

Mais que convidados: participantes ativos

Especialistas em gerontologia enfatizam que as festividades de fim de ano são carregadas de significados afetivos para todas as idades, em particular para as pessoas mais velhas. É uma época propícia para reencontros, para reviver e construir memórias. Mesmo para aqueles que não mantêm contato diário, as celebrações anuais oferecem uma ponte. No entanto, é fundamental reconhecer que, além das alegrias, esses momentos também podem acentuar as ausências, seja por perdas, rupturas ou distâncias físicas.

Nesse contexto, a participação dos idosos vai muito além de serem meros convidados. É crucial que eles se sintam parte ativa e protagonista dos eventos. Embora seja natural que os mais jovens assumam responsabilidades como a compra de presentes ou a preparação de pratos, a inclusão dos idosos no processo é de suma importância, fazendo com que se sintam pertencentes ao grupo familiar. O contato com a família, embora sempre relevante, torna-se essencial nessa época, pois favorece o encontro de gerações, a retomada de tradições e a criação de novas lembranças que fortalecem o tecido social e emocional de cada lar.

Memórias afetivas e a importância do contato físico

Revivendo receitas e histórias

Ainda que um idoso não possua mais a mesma disposição para gerenciar a cozinha ou a decoração, sua voz e experiência são inestimáveis. É fundamental que possam opinar, sugerir um prato especial ou até mesmo ditar uma receita, deixando sua marca autoral na celebração. A vivência de uma avó que “ditava” a receita de um pudim enquanto os mais jovens o preparavam é um exemplo clássico de integração, criando uma ponte entre as gerações através da culinária e da memória. É um momento de proximidade, de troca de experiências, especialmente para os mais novos, que têm a oportunidade de absorver essa herança.

Em uma era dominada pela facilidade de acesso a receitas digitais, o valor do “pudim da minha avó” ou do “peru com o molho que a minha mãe fazia” ganha um peso afetivo incomparável. Essas reminiscências e biografias vêm à tona nas experiências compartilhadas, enriquecendo a celebração com histórias e sabores que atravessam o tempo.

Quebrando o isolamento digital

A proliferação de celulares e a imersão na internet têm gerado um distanciamento perceptível entre os membros da própria família. As festas de Natal e Réveillon, mesmo ocorrendo uma vez ao ano, oferecem uma oportunidade preciosa para que as famílias convivam mais proximamente, promovendo um contato físico e efetivo. Não basta estar no mesmo ambiente se cada um está absorto em seu smartphone.

A construção da ceia, do almoço e dos rituais familiares específicos de cada grupo é essencial para afastar as pessoas de seus espaços individuais e mundos privados. Rituais como a preparação coletiva de pratos, como a antiga tradição italiana de reunir a família uma semana antes para preparar pães e conservar alcachofras, reforçam os laços familiares e garantem que as experiências sensoriais e afetivas prevaleçam sobre a desconexão digital. Esses momentos de preparação conjunta não só preservam as tradições, mas também criam um senso de comunidade e pertencimento que a tecnologia, por si só, não pode replicar.

Rituais, tolerância e o fomento à solidariedade

A construção de rituais e a quebra do gelo

A organização de atividades coletivas, como a ceia e os rituais familiares, é uma ferramenta poderosa para tirar as pessoas de seus mundos privados. Um amigo secreto, por exemplo, pode “quebrar o gelo” e promover a interação, estimulando conversas e risadas entre os participantes. Contudo, é fundamental que esses encontros sejam encarados como momentos de tolerância e paciência, evitando que se transformem em oportunidades para resolver pendências antigas ou “lavar roupa suja”. As festas não são o palco para acertos de contas de uma vida inteira.

A sugestão é que se evite que ressentimentos antigos contaminem a atmosfera festiva. A psicóloga Valmari Cristina Aranha Toscano, membro da Comissão de Formação Gerontológica da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), recomenda um incentivo a um “projeto de futuro”, similar ao dia do perdão em outras culturas. A ideia é fazer um balanço do ano que termina e traçar perspectivas para o próximo, focando em transformações pessoais, sem criar listas de cobranças para os outros. Além disso, para manter a harmonia em reuniões com múltiplas gerações e diferentes visões, é aconselhável evitar assuntos polêmicos como política e religião, prevenindo discussões que possam transformar o encontro em um campo de batalha.

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Foco no futuro e na reconciliação

As festas de fim de ano devem ser usadas para celebrar o que se tem em comum, relembrar histórias engraçadas, rituais familiares e as experiências que moldaram o contexto daquelas pessoas. É um momento de resgatar o que já foi superado e de reforçar os laços positivos, não para criar expectativas de resolução de conflitos que deveriam ser abordados em outro contexto. Evitar frases como “Meu filho nunca vem, na hora que ele vier, ele vai ver” é crucial, pois essas atitudes afastam as pessoas em vez de aproximá-las.

A proposta é que esses encontros sejam práticos, oferecendo oportunidades de aproximação, perdão e reconciliação. É tempo de brincar, usar o espírito natalino para acalmar os ânimos e promover uma experiência de autorreflexão, em vez de cobrança mútua. Lutar por disputas nesses momentos pode gerar um impacto negativo duradouro, enquanto o foco na celebração da união e da esperança é capaz de fortalecer as relações e criar memórias genuinamente felizes para todos.

Impacto na saúde mental e o convite à inclusão

Benefícios da interação intergeracional

A integração de gerações nas festas de fim de ano é um poderoso bálsamo para a saúde mental de todos os envolvidos. Para os idosos, a participação ativa e o sentimento de pertencimento são vitais. Eles se sentem valorizados, queridos e conectados, o que pode reduzir significativamente a sensação de solidão e isolamento. Para os mais jovens, a interação com os avós e outros parentes mais velhos oferece uma rica oportunidade de aprendizado, de acesso a histórias de vida e tradições que, de outra forma, poderiam ser perdidas. Essa troca intergeracional fortalece a identidade familiar e cultural, criando um senso de continuidade e propósito que beneficia a todos. A presença de diferentes perspectivas e experiências de vida enriquece o ambiente, tornando as celebrações mais dinâmicas e significativas.

Combatendo a solidão e ampliando o conceito de família

Uma das maiores preocupações em torno das festas de fim de ano é a solidão. Nem todos possuem uma família ou vínculos preservados. No entanto, a noção de família pode e deve ser expandida. Família não se limita a laços sanguíneos; ela engloba grupos sociais e afetivos que se formam ao longo da vida. É comum ver pessoas que se agregam, como grupos de amigos, vizinhos, colegas de academia ou da igreja, para passar essas datas juntos. Para pessoas mais longevas, que talvez não tenham mais um vasto círculo de amigos da mesma idade, a inclusão de afilhados, vizinhos ou membros de grupos comunitários (como voluntariado) é de extrema importância.

A psicóloga Valmari Toscano enfatiza a relevância de não se isolar. Se alguém em seu círculo estiver sozinho, um simples convite para participar da celebração pode transformar o Natal ou o Réveillon dessa pessoa. Além de proporcionar conforto a quem mais precisa, a presença de alguém de fora da família pode até mesmo diluir tensões internas, trazendo uma energia e uma perspectiva diferente para o ambiente. A solidariedade, nesse sentido, não apenas beneficia quem recebe, mas também é profundamente enriquecedora para o psíquico de quem oferece. Poder proporcionar algo bom a alguém, sem esperar retribuição da mesma pessoa, é um ato de generosidade que alimenta a alma e reforça o verdadeiro espírito das festas.

Perguntas frequentes

O que significa a integração de gerações nas festas de fim de ano?
Significa promover a participação ativa de pessoas de todas as idades, especialmente idosos, nas celebrações, valorizando suas contribuições, opiniões e memórias, em vez de apenas convidá-las como figurantes.

Como posso incentivar a participação ativa dos idosos nas celebrações?
Permita que opinem sobre a decoração, sugiram pratos, compartilhem histórias ou até mesmo “ditam” receitas. Inclua-os no planejamento das atividades e rituais familiares, garantindo que se sintam protagonistas e pertencentes.

Quais assuntos devem ser evitados para manter um clima harmonioso?
É recomendado evitar temas polêmicos como política e religião. Além disso, as festas não são o momento ideal para resolver pendências antigas ou expressar ressentimentos acumulados; o foco deve ser na harmonia e na construção de um futuro positivo.

E se não tivermos idosos na família ou se eles estiverem sozinhos?
Amplie o conceito de família: convide amigos, vizinhos ou pessoas de grupos sociais (academia, igreja, trabalho voluntário) que estejam sozinhas. A solidariedade e a inclusão de outras pessoas podem enriquecer a celebração e combater a solidão.

Quer transformar suas festas de fim de ano em momentos inesquecíveis de união e afeto? Comece hoje a planejar a inclusão de todos, valorizando cada geração e construindo memórias que durarão para sempre.

Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br

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