Em meio às negociações da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém, mulheres ocuparam o centro do debate sobre a interseção entre clima e gênero. A pauta do Dia de Gênero reuniu diversas vozes femininas nos corredores do evento.
A ministra da Mulher, Márcia Lopes, enfatizou a urgência de reconhecer que a justiça climática só será alcançada com a promoção da justiça de gênero. “A ciência, os dados e os territórios mostram para nós, todos os dias, que as mulheres são as mais atingidas pela falta de água, pela insegurança alimentar, pela pobreza do tempo, pela perda de renda e pelo aumento da violência durante os desastres. E esses impactos têm cor e território”, declarou.
Apesar de enfrentarem maiores desafios, a ministra ressaltou o papel crucial das mulheres como guardiãs de soluções para os problemas climáticos. “Elas cuidam das sementes, da água, dos quintais produtivos, mantêm as cozinhas comunitárias, solidárias e as hortas, preservam saberes ancestrais, lideram redes de solidariedade. Os estudos mostram que, quando as mulheres participam da gestão ambiental, os resultados podem ser até sete vezes mais eficazes.”
Ana Carolina Querino, representante da ONU Mulheres no Brasil, defendeu a importância de analisar como os impactos das mudanças climáticas afetam distintamente a vida das mulheres, para que as soluções sejam específicas e eficazes. “Porque, se as mulheres vêm sofrendo esses efeitos, elas também vêm desenvolvendo, pela sua resiliência, soluções que podem estruturar esses espaços mais formais”, disse.
A representante da ONU Mulheres também ressaltou a necessidade de metas e debates que considerem números reais sobre o recorte de gênero na construção de ações climáticas. “Temos dados que indicam que mais de 250 milhões de mulheres serão empurradas para uma situação de pobreza e de insegurança alimentar. Enquanto a gente olha para os homens, esse número é de 130 milhões”, alertou.
As mulheres, além de serem mais vulneráveis a desastres e sofrerem maiores impactos socioeconômicos, também são sobrecarregadas devido às mudanças climáticas, exercendo, muitas vezes, o papel principal no cuidado de grupos mais vulneráveis.
Ana Carolina Querino explicou que “o aquecimento, o aumento das temperaturas, leva a situações onde as pessoas que precisam de cuidados, como as pessoas com deficiência, os idosos, acabam sofrendo mais, e aí gerando uma carga de cuidados aumentado para as mulheres, como as principais responsáveis”.
O Dia de Gênero nas COPs complementa o Programa de Trabalho de Lima sobre Gênero (PTGL), criado em 2014 para promover a igualdade de gênero e integrar o tema no trabalho dos países e do secretariado da Convenção do Clima. O PTGL, com duração de dez anos, foi prorrogado na COP29 até que um novo plano seja elaborado.
“A gente sabe que um plano específico de ação não necessariamente é suficiente se não vier acompanhado de medidas de prestação de contas, se não vier acompanhado de um compromisso político forte, se não vier acompanhado de medidas para garantir o poder de agência, a liderança das mulheres e o financiamento”, concluiu Ana Carolina.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br
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