Catia Maciel

O Legado de uma Mãe Sertaneja: A Educação como Herança e Esperança

Maio floresce com o aroma da saudade e da gratidão, um tempo dedicado a celebrar aquelas que nos deram a vida e moldaram quem somos. Para mim, o Dia das Mães evoca memórias vívidas de um tempo simples, mas rico em ensinamentos, na poeira vermelha de um povoado acolhedor chamado Maxixe na cidade de Central, Bahia. Nascida caçula em meio a nove irmãos, fui testemunha ocular da força silenciosa e da sabedoria intuitiva de uma mulher extraordinária: minha mãe.

Em nosso lar humilde, incrustado no coração do sertão, as dificuldades eram companheiras constantes. A roça nos alimentava, mas era no terreno árido da falta de instrução que minha mãe enxergava o maior desafio a ser superado. Sem ter tido a oportunidade de frequentar a escola, ela carregava consigo a convicção inabalável de que “para o pobre, só existe um meio: a educação”. Essa frase, repetida como um mantra, era a bússola que guiava suas ações e a herança mais valiosa que ela poderia nos legar.

Mesmo com todas as dificuldades encontradas em um ambiente sem acesso a escolas, sem bibliotecas, sem acesso a livros, minha mãe priorizou, com uma obstinação admirável, os estudos dos filhos. Os mais velhos desbravaram os caminhos da aprendizagem, e, imbuídos do mesmo espírito de união e da visão materna, tornaram-se pilares para que os mais novos também pudessem trilhar essa jornada. Foi um ciclo virtuoso de apoio mútuo, alimentado pela crença inabalável de uma mãe que via na educação a porta de saída para uma vida mais digna e promissora.

Hoje, olhando para trás, sinto um nó na garganta e o coração transbordando de orgulho ao constatar o legado materno. Todos os nove filhos alcançamos o nível superior, cada um trilhando seu caminho, mas unidos pelo alicerce sólido que nossa mãe construiu com tanto sacrifício. O reconhecimento que hoje colhemos é, em grande parte, fruto daquela visão singela e poderosa, daquela fé inabalável no poder transformador da educação.

Minha mãe já não está fisicamente entre nós, mas sua presença é sentida em cada conquista, em cada desafio superado. Neste Dia das Mães, minha homenagem a ela se estende a todas as mães que, como a minha, lutam incansavelmente para que seus filhos tenham na educação a possibilidade de um futuro melhor. Mães que, muitas vezes em anonimato e em meio a inúmeras dificuldades, semeiam o conhecimento como quem planta a mais preciosa das sementes.

Meu olhar se volta, com especial carinho e reconhecimento, para aquelas mães esquecidas, as heroínas silenciosas dos interiores do nosso Brasil. Mães que, distantes dos holofotes e dos recursos das grandes cidades, enfrentam a árdua jornada de criar e educar seus filhos com recursos escassos, mas com uma fé inabalável no potencial de cada um. Que neste dia, a luz da valorização e do reconhecimento alcance cada lar, cada coração materno que pulsa forte nos rincões do nosso país. Que a história da minha mãe sirva de inspiração para celebrarmos a resiliência, a sabedoria e o amor incondicional de todas as mães, especialmente aquelas que, com sua luta silenciosa, constroem um futuro mais promissor para as novas gerações.

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