A preocupação com a segurança e a saúde feminina levou as principais entidades médicas do país a emitir um alerta contundente sobre o uso indiscriminado de testosterona para mulheres. Em uma iniciativa conjunta, profissionais de endocrinologia, ginecologia e cardiologia uniram-se para restringir e esclarecer as indicações do hormônio, enfatizando os potenciais perigos de sua prescrição sem embasamento clínico adequado. O comunicado visa proteger a população feminina dos riscos associados a uma prática que, por vezes, ignora evidências científicas e foca em promessas não comprovadas. A testosterona, embora presente no organismo feminino, possui um papel delicado e sua manipulação deve ser cercada de extremo rigor e responsabilidade médica. A nota conjunta sublinha a necessidade de uma avaliação minuciosa antes de qualquer decisão terapêutica, ressaltando que a segurança da paciente deve ser a prioridade máxima em todas as etapas do tratamento.
O alerta médico e a única indicação formal
A convergência de três das mais respeitadas sociedades médicas do Brasil – englobando a endocrinologia, a ginecologia e a cardiologia – na elaboração de um comunicado conjunto sobre o uso da testosterona em mulheres reflete a seriedade da questão. Esta união reforça a postura médica de que a prescrição do hormônio para o público feminino deve ser estritamente limitada a uma única indicação formalmente reconhecida e validada pela ciência. Tal indicação não pode ser negligenciada ou mal interpretada, exigindo uma compreensão aprofundada tanto por parte dos profissionais de saúde quanto das pacientes.
Transtorno do desejo sexual hipoativo (TDSH)
A única condição para a qual a prescrição de testosterona em mulheres é considerada apropriada, após uma avaliação clínica minuciosa, é o Transtorno do Desejo Sexual Hipoativo (TDSH). O TDSH é caracterizado por uma diminuição persistente ou recorrente do desejo sexual, que causa sofrimento significativo à mulher. Não se trata de uma simples variação no interesse sexual, mas de uma condição clínica que impacta a qualidade de vida e o bem-estar emocional. A identificação do TDSH requer um diagnóstico cuidadoso, excluindo outras causas para a baixa libido, como problemas de relacionamento, estresse, depressão, efeitos colaterais de medicamentos ou outras condições médicas.
Mesmo para o TDSH, a terapia com testosterona não é a primeira linha de tratamento e deve ser considerada apenas após o esgotamento de outras abordagens e em doses fisiológicas, ou seja, que mimetizem os níveis hormonais normais de uma mulher. A testosterona não é um remédio para todas as disfunções sexuais femininas, e sua eficácia e segurança a longo prazo para o TDSH ainda são objeto de estudo. A administração sem indicação precisa, baseada em dosagens isoladas ou com propósitos não terapêuticos, é categoricamente desencorajada pelas entidades médicas, dado o potencial de danos à saúde da mulher.
Riscos e efeitos adversos da testosterona em mulheres
O uso de testosterona em mulheres fora da única indicação estabelecida representa um aumento significativo no risco de uma série de eventos adversos, alguns dos quais podem ser graves e até irreversíveis. As entidades médicas enfatizam que a busca por benefícios não comprovados ou estéticos pode expor as pacientes a consequências sérias e duradouras para sua saúde física e mental.
Efeitos virilizantes e estéticos
Um dos grupos de efeitos colaterais mais comuns e visíveis do uso indevido de testosterona em mulheres são os efeitos virilizantes, que consistem no desenvolvimento de características masculinas. Entre eles, destacam-se a acne, que pode ser severa e persistente; a queda de cabelo (alopecia androgênica), que pode levar ao afinamento e à perda capilar; o crescimento de pelos em áreas tipicamente masculinas (hirsutismo), como rosto, tórax e abdômen; o aumento do clitóris (clitoromegalia), uma alteração física que pode causar desconforto e constrangimento; e, de forma particularmente preocupante, o engrossamento irreversível da voz. Este último efeito, em especial, não regride mesmo com a interrupção do uso do hormônio, tornando-se uma alteração permanente na vida da mulher. A busca por melhorias estéticas ou de composição corporal, sem base científica, pode, ironicamente, levar a alterações estéticas indesejadas e irreversíveis.
Complicações hepáticas e metabólicas
Além dos impactos virilizantes, o uso inadequado de testosterona pode trazer sérias complicações para órgãos internos, com destaque para o fígado. Há um risco aumentado de toxicidade hepática, que pode variar de elevações enzimáticas assintomáticas a quadros mais graves de disfunção hepática e até mesmo o desenvolvimento de tumores hepáticos. Tais condições exigem acompanhamento médico rigoroso e podem comprometer seriamente a saúde da paciente. No âmbito metabólico, a testosterona pode provocar alterações significativas nos exames laboratoriais, impactando os níveis de colesterol e triglicerídeos. Essas desregulações podem, por sua vez, contribuir para um perfil lipídico desfavorável, aumentando o risco de doenças cardiovasculares, conforme será detalhado.
Implicações cardiovasculares e psiquiátricas
As repercussões cardiovasculares do uso não indicado de testosterona em mulheres são de grande preocupação para a comunidade médica. O hormônio pode levar ao desenvolvimento ou agravamento de hipertensão arterial, um fator de risco primário para uma série de problemas cardíacos. Além disso, há o risco de arritmias cardíacas, embolias, tromboses, infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC). Em casos extremos, o uso indevido de testosterona pode até mesmo aumentar a mortalidade.
No campo psicológico e psiquiátrico, a manipulação hormonal sem necessidade pode desencadear alterações de humor, irritabilidade, ansiedade, agressividade e, em alguns casos, quadros mais complexos que demandam intervenção psiquiátrica. A testosterona também pode impactar a fertilidade feminina, especialmente quando utilizada em doses suprafisiológicas, prejudicando a ovulação e a função reprodutiva. A delicada balança hormonal feminina é complexa, e a introdução de testosterona de forma indevida pode desestabilizar essa harmonia com consequências sérias e multifacetadas.
A postura da Anvisa
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão regulador brasileiro, não aprovou nenhuma formulação de testosterona especificamente para uso em mulheres. Essa ausência de aprovação é um indicativo crucial da falta de evidências robustas sobre a segurança e eficácia do hormônio para a maioria das finalidades com as quais tem sido promovido no público feminino. A Anvisa também não reconhece o uso de testosterona para fins estéticos, como melhora da composição corporal, aumento de desempenho físico, melhora da disposição ou como uma estratégia antienvelhecimento. Essas aplicações carecem de embasamento científico e, como reiterado pelas entidades médicas, expõem as mulheres a riscos desnecessários sem garantia de benefícios. A regulamentação da Anvisa serve como um balizador para a prática médica e farmacêutica, garantindo que os medicamentos comercializados no país atendam a padrões rigorosos de segurança e eficácia.
A cautela é essencial na saúde da mulher
O consenso das principais entidades médicas brasileiras sobre a restrição da testosterona em mulheres é um chamado urgente à prudência e à responsabilidade. A saúde feminina, complexa e multifacetada, não deve ser submetida a terapias hormonais sem um diagnóstico preciso e uma indicação formalmente reconhecida. Os riscos, que incluem desde alterações estéticas irreversíveis até complicações cardiovasculares graves e toxicidade hepática, superam em muito quaisquer supostos benefícios não comprovados para fins estéticos, de desempenho ou antienvelhecimento. É imperativo que tanto os profissionais de saúde quanto as mulheres busquem informações baseadas em evidências e priorizem a segurança acima de tendências ou promessas sem fundamento científico, garantindo que as decisões sobre a saúde sejam sempre tomadas com a máxima cautela e conhecimento.
FAQ
Qual a única indicação aprovada para testosterona em mulheres?
A única indicação formalmente reconhecida para a prescrição de testosterona em mulheres é o Transtorno do Desejo Sexual Hipoativo (TDSH), e isso somente após uma avaliação clínica adequada e minuciosa que confirme o diagnóstico e descarte outras causas para a baixa libido.
Quais os principais riscos do uso indevido de testosterona por mulheres?
Os riscos são diversos e podem ser graves, incluindo efeitos virilizantes como acne, queda de cabelo, crescimento de pelos, aumento do clitóris e engrossamento irreversível da voz. Há também riscos de toxicidade e tumores de fígado, alterações psicológicas e psiquiátricas, infertilidade e potenciais repercussões cardiovasculares, como hipertensão arterial, arritmias, embolias, tromboses, infarto, AVC e aumento da mortalidade.
A Anvisa aprovou testosterona para fins estéticos em mulheres?
Não, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não aprovou nenhuma formulação de testosterona para uso em mulheres, nem reconhece seu uso para fins estéticos, de melhora de composição corporal, desempenho físico, disposição ou antienvelhecimento.
Em caso de dúvidas sobre sua saúde hormonal ou desejo sexual, procure sempre a orientação de um médico especialista. A informação qualificada e o acompanhamento profissional são seus maiores aliados para decisões seguras e benéficas à sua saúde.
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