© Fernando Frazão/Agência Brasil

Fronteira cerrado: desmatamento ameaça comunidades e escancara conflitos fundiários

Povos e comunidades tradicionais do Cerrado, considerados pilares na conservação do bioma, enfrentam crescentes conflitos agrários impulsionados pela expansão da fronteira agrícola no Brasil. A luta pela terra se intensifica, colocando em risco o modo de vida sustentável dessas populações.

No Vão do Uruçu, zona rural a cerca de 300 quilômetros de Balsas, no Maranhão, mais de 20 famílias sofrem forte pressão para abandonar as terras que ocupam há gerações. A região, um dos centros do agronegócio no país, presencia o acirramento de disputas fundiárias.

Os moradores relatam a tensão e o medo constantes. Um posseiro de 65 anos, Osmar Paulo da Silva Santos, expressou o desespero da comunidade: “Antes desse povo chegar por aqui, nós todos vivíamos sossegados. E hoje a gente vive tão coagido por causa deles”. As famílias são coagidas a aceitar acordos que reduzem drasticamente suas áreas de trabalho, limitando-as a 50 hectares, ou a simplesmente deixar suas casas. Os posseiros suspeitam que as terras estão sendo griladas para posterior revenda e utilização na produção de soja.

Além da pressão por acordos desfavoráveis, os moradores do Vão do Uruçu denunciam ameaças diretas, incluindo disparos de armas de fogo nas proximidades de suas residências. O agricultor Osmar relata o terror vivido: “Nós temos corrido medo de uma bala variada acertar na gente. Tem dia que a gente escuta as balas passar zunindo por cima de casa”.

Os posseiros alegam que a empresária Sheila Lustosa Parrião, que se apresenta como representante da empresa Castelo Construtora, Incorporadora e Reflorestadora, começou a cobrar pelas terras em 2020. Em 2023, o Ministério Público do Maranhão a acusou de ordenar a destruição de uma ponte pública que conectava comunidades no Vão do Uruçu. A reportagem tentou contato com a empresária, mas não obteve resposta após ela informar que encaminharia o caso ao setor jurídico.

O Maranhão se destaca negativamente como o estado com o maior número de conflitos por terra e água no Brasil, de acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT). No ano passado, foram registrados 420 conflitos no campo.

O governo estadual tem buscado reverter esse quadro, priorizando a regularização fundiária e lançando o Programa Paz no Campo em 2023. Segundo o presidente do Instituto de Colonização e Terras do Maranhão (Iterma), Anderson Pires Ferreira, o programa já entregou 18 mil títulos de propriedade e regularizou 27 comunidades quilombolas.

O presidente do Iterma reconhece que a expansão da agropecuária no Cerrado tem intensificado os conflitos fundiários. “à medida que a agropecuária vai se expandindo, aparecem essas matrículas frágeis que não têm geolocalização. Quanto mais aumentam as áreas de produção, mais essas áreas vão encontrar posseiros, agricultores familiares e comunidades tradicionais”. Anderson Pires informou que o Iterma registrou 300 mil hectares de terras “devolutas” e retomou 150 mil hectares de terras griladas durante a atual gestão.

Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br

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