Catia Maciel

Empoderamento feminino: qual o valor da autoestima, autocompaixão e da autoconfiança?

O termo “empoderamento” ganhou força nos movimentos sociais, especialmente no contexto das lutas por direitos civis e, mais tarde, nos movimentos feministas. Embora suas raízes sejam multifacetadas, ele se consolidou como a capacidade de indivíduos e grupos de terem controle sobre suas vidas, tomando decisões e agindo em prol de seus próprios interesses. No caso do empoderamento feminino, refere-se especificamente ao processo pelo qual as mulheres adquirem poder e autonomia para desafiar as estruturas de desigualdade de gênero e construir uma sociedade mais justa e equitativa.

Dentro desse processo de empoderamento, a autoestima e a autoconfiança desempenham papéis cruciais, embora distintos. A autoestima se refere ao valor que atribuímos a nós mesmas, ao nosso senso de merecimento e aceitação. Uma autoestima saudável nos permite reconhecer nossas qualidades e lidar com nossas imperfeições de forma mais gentil. Já a autoconfiança reside na crença em nossas habilidades e capacidades para realizar tarefas e alcançar objetivos. Ela se manifesta na nossa disposição de enfrentar desafios e acreditar no nosso potencial de sucesso.

No entanto, a busca incessante por uma autoestima elevada pode, por vezes, se tornar uma armadilha. A pressão para sempre nos sentirmos “bem” e “positivas” pode gerar ainda mais sofrimento quando inevitavelmente enfrentamos dificuldades e autocríticas. É nesse ponto que a autocompaixão surge como uma alternativa mais acolhedora e sustentável.

A autocompaixão, popularizada pela psicóloga e pesquisadora Kristin Neff, envolve tratar a nós mesmas com a mesma gentileza, compreensão e cuidado que ofereceríamos a um amigo em sofrimento. Ela se baseia em três pilares fundamentais:

Autobondade: Em vez de autocrítica severa, praticamos a gentileza e a compreensão conosco mesmas em momentos de dor, fracasso ou inadequação.

Humanidade Comum: Reconhecemos que a imperfeição e o sofrimento são partes inerentes da experiência humana. Não estamos sozinhas em nossas dificuldades.

Atenção Plena (Mindfulness): Observamos nossos pensamentos e sentimentos dolorosos com consciência e aceitação, sem julgamento e sem nos deixar levar por eles.

Para mim, em particular, a autocompaixão se revelou um farol em um período extremamente desafiador. Durante o tratamento do meu câncer de mama em 2021, a fragilidade física e emocional abalou profundamente minha autoestima. Foi então que encontrei refúgio e sabedoria no livro “Manual de Mindfulness e Autocompaixão (Um guia para construir forças internas e prosperar na arte de ser o seu melhor amigo)”. A leitura e a prática dos exercícios propostos me ensinaram a acolher a dor, a reconhecer minha humanidade em meio à vulnerabilidade e a me tratar com a mesma bondade que eu dedicaria a qualquer pessoa querida.

A diferença crucial entre autoestima e autocompaixão reside no foco da avaliação. A autoestima muitas vezes está ligada a conquistas externas, comparações com os outros e a uma necessidade de se sentir “superior” ou “especial”. Já a autocompaixão não depende de avaliações ou comparações. Ela se baseia na aceitação incondicional de nossa humanidade compartilhada, com todas as suas imperfeições e sofrimentos. Enquanto a autoestima pode oscilar dependendo das circunstâncias externas e do nosso desempenho, a autocompaixão é uma fonte interna de força e conforto que permanece acessível mesmo nos momentos mais difíceis.

Ao abraçar a autocompaixão, as mulheres podem construir uma base de sustentação emocional mais resiliente para o seu empoderamento. Em vez de se cobrarem incessantemente por perfeição e sucesso, elas aprendem a se acolherem em suas vulnerabilidades, a aprender com seus erros e a seguir em frente com mais gentileza e força interior. A autocompaixão não diminui a ambição ou a busca por crescimento; ao contrário, ela nutre a coragem de enfrentar desafios com mais leveza e a capacidade de se levantar após as quedas com mais resiliência.

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