O Tribunal Superior do Trabalho (TST) proferiu uma decisão crucial sobre a greve dos Correios, que se estendeu por duas semanas e mobilizou trabalhadores em nove estados brasileiros. O julgamento considerou o movimento paredista como não abusivo, reconhecendo a legitimidade da reivindicação dos empregados. Contudo, apesar da legalidade da paralisação, a Corte trabalhista autorizou o desconto dos dias não trabalhados nos salários dos funcionários, a ser efetuado de forma parcelada. A decisão também garantiu a manutenção de cláusulas pré-existentes do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) anterior, incluindo um reajuste de 5,10% nos salários, com base na inflação. Este veredito encerrou o dissídio coletivo da categoria, com a expectativa de retorno imediato dos trabalhadores às atividades. A medida oferece uma resolução temporária para a disputa, ao mesmo tempo em que destaca os desafios financeiros enfrentados pela estatal.
Decisão do TST: legalidade e impactos nos salários
Validade do movimento e o Acordo Coletivo
O Tribunal Superior do Trabalho, por meio de sua Seção Especializada em Dissídios Coletivos (SDC), decidiu que a greve dos trabalhadores dos Correios não configurou um movimento abusivo. A ministra relatora do processo, Kátia Magalhães Arruda, conduziu o julgamento, sendo acompanhada pela maioria dos demais ministros. Esta declaração de legalidade é um reconhecimento importante do direito de greve dos empregados, validando a mobilização que teve início em 16 de dezembro e se estendeu por duas semanas.
Além de julgar a legalidade da paralisação, o TST manteve a validade das cláusulas pré-existentes no Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) anterior da categoria. Este acordo, que regia as relações de trabalho no período que antecedeu a greve, teve seus termos estendidos por meio da sentença normativa proferida pela Corte. Entre as principais determinações está o reajuste salarial de 5,10%, calculado com base na inflação acumulada no período de um ano até a data-base da categoria, fixada em 1º de agosto. Essa manutenção garante aos trabalhadores a reposição inflacionária e a continuidade de outros benefícios já estabelecidos, fornecendo uma base para as condições de trabalho até a próxima rodada de negociações.
Descontos salariais: como serão aplicados
Apesar da declaração de legalidade do movimento paredista, a decisão do TST estabeleceu que os trabalhadores que aderiram à greve terão os dias de paralisação descontados de seus salários. Esta medida, frequentemente aplicada em greves, mesmo quando consideradas não abusivas, visa compensar os dias em que os serviços não foram prestados.
Os descontos, no entanto, serão aplicados de forma gradual e individualizada para cada empregado. Conforme determinado pela Corte, os valores correspondentes às faltas serão divididos em três parcelas mensais, sucessivas e iguais. Essa metodologia busca mitigar o impacto financeiro imediato nos salários dos trabalhadores, distribuindo a carga do desconto ao longo de um trimestre. A apuração individualizada garante que cada funcionário terá o desconto aplicado proporcionalmente aos dias em que efetivamente não compareceu ao trabalho devido à greve. Essa condição é um ponto de equilíbrio entre o reconhecimento da legitimidade da greve e a necessidade de resguardar a capacidade operacional da empresa.
O contexto da paralisação e os desafios dos Correios
A cronologia da greve e a essencialidade do serviço
A greve dos trabalhadores dos Correios teve início em 16 de dezembro, completando duas semanas de paralisação em 30 de dezembro. O movimento se concentrou em nove estados-chave do país: Ceará, Paraíba, Mato Grosso, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A adesão nessas regiões teve um impacto significativo na distribuição de correspondências e encomendas, evidenciando a capilaridade da estatal e a importância de seus serviços para a população e a economia.
Diante do caráter essencial do serviço postal, o TST já havia, na semana anterior à decisão final, determinado a manutenção de 80% do efetivo dos Correios em atividade. Essa medida visou minimizar os transtornos à população e garantir a continuidade de serviços críticos. Com o encerramento do julgamento do dissídio coletivo, a expectativa é que os trabalhadores retornem às suas funções normalmente, garantindo a plena retomada das operações da empresa. A rapidez na resolução do impasse, ainda que com concessões de ambos os lados, é fundamental para estabilizar a prestação de um serviço público vital.
Crise financeira e o futuro da estatal
A mobilização dos trabalhadores dos Correios ocorreu em um momento de extrema delicadeza para a estatal. A empresa, cujo capital é 100% público, enfrenta uma grave crise financeira, acumulando déficits bilionários nos últimos anos. Esse cenário de dificuldades tem levado a direção da companhia a buscar medidas drásticas para reequilibrar suas contas e garantir sua sustentabilidade a longo prazo.
Entre as iniciativas anunciadas para reestruturar a empresa, destacam-se planos ambiciosos de enxugamento da estrutura. A estatal estuda o fechamento de até 6 mil agências em todo o país, uma medida que visa otimizar custos operacionais. Além disso, há um projeto para a demissão de cerca de 15 mil empregados, o que representaria uma significativa redução do quadro funcional. Para complementar essas ações internas, os Correios também buscam um aporte financeiro substancial. A empresa estuda a obtenção de R$ 12 bilhões por meio de linhas de crédito abertas nos maiores bancos do país, um recurso essencial para cobrir dívidas e investir em modernização. Esse quadro financeiro complexo serve de pano de fundo para as negociações trabalhistas e as perspectivas futuras da companhia.
Repercussões e o cenário para futuras negociações
A visão dos trabalhadores e a ausência de posicionamento da empresa
A decisão do TST foi recebida com uma mistura de alívio e frustração pelos trabalhadores. Emerson Marinho, secretário-geral da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (Fentect), expressou a visão da categoria. Ele afirmou que o resultado “reflete aquilo que nós vínhamos trabalhando, cobrando da empresa, e retratamos tudo isso aqui dentro do TST, que é a garantia dos nossos direitos, com a garantia da reposição salarial”. Marinho reconheceu que nem todas as expectativas foram atendidas na plenitude, mas salientou que o julgamento “retrata a expectativa da categoria”. Ele também reiterou a defesa dos trabalhadores, enfatizando que a categoria não se considera responsável pela crise financeira que aflige a estatal.
Por outro lado, a direção dos Correios optou por não se manifestar publicamente sobre o julgamento do TST até o momento do fechamento desta reportagem. A ausência de um posicionamento oficial da empresa deixa em aberto a percepção sobre como a gestão avalia a decisão e quais serão os próximos passos em relação à reestruturação e ao diálogo com os sindicatos. Essa falta de comunicação oficial adiciona uma camada de incerteza ao cenário pós-greve, enquanto os trabalhadores aguardam a implementação das condições acordadas.
Perspectivas para 2026: negociação do zero
A sentença normativa proferida pelo TST, que manteve as cláusulas pré-existentes do acordo coletivo anterior e estabeleceu o reajuste de 5,10%, terá validade por um ano. Isso significa que as condições atuais vigorarão até a data-base de 1º de agosto do próximo ciclo. Após esse período, no entanto, as cláusulas atuais deixarão de ter efeito e as negociações entre as entidades sindicais e a empresa deverão recomeçar “do zero” a partir de 2026.
Esse cenário de negociação a partir de uma “folha em branco” pode ser um fator determinante para o futuro das relações de trabalho nos Correios. A direção da empresa tem demonstrado intenção de flexibilizar contratos de trabalho e reduzir benefícios como forma de cortar ainda mais despesas, em linha com seu plano de reestruturação para combater os déficits bilionários. A perspectiva de uma negociação sem o respaldo de acordos anteriores pode favorecer essas intenções da gestão, abrindo caminho para discussões mais profundas sobre a estrutura de custos da companhia e a adequação de benefícios ao novo contexto financeiro. O período até 2026 será crucial para ambas as partes se prepararem para um novo ciclo de intensas discussões.
Conclusão
A decisão do Tribunal Superior do Trabalho representa um ponto final temporário para a prolongada greve dos Correios, equilibrando o reconhecimento da legitimidade do movimento paredista com a necessidade de responsabilidade fiscal. Ao declarar a greve não abusiva e garantir o reajuste salarial de 5,10%, o TST atendeu a uma parte das reivindicações dos trabalhadores. Contudo, a autorização para o desconto parcelado dos dias parados nos salários reflete as complexidades legais e financeiras envolvidas. A manutenção temporária do acordo coletivo anterior oferece estabilidade até a próxima data-base, mas o futuro a partir de 2026 se desenha com grandes incertezas, à medida que a empresa busca superar sua profunda crise financeira. O cenário demanda atenção contínua às próximas etapas da reestruturação da estatal e às futuras negociações que definirão o destino de milhares de empregos e a qualidade de um serviço público essencial.
FAQ
Qual foi a principal decisão do TST em relação à greve dos Correios?
A principal decisão do TST foi que a greve dos trabalhadores dos Correios não era abusiva, ou seja, era legítima. Além disso, manteve cláusulas do Acordo Coletivo de Trabalho anterior, incluindo um reajuste de 5,10% nos salários, mas autorizou o desconto dos dias não trabalhados.
Os trabalhadores em greve receberão seus salários integralmente pelo período parado?
Não. Apesar da greve ter sido considerada não abusiva, o TST autorizou o desconto dos dias não trabalhados. Esses valores serão apurados individualmente e descontados em três parcelas mensais, sucessivas e iguais.
Qual o prazo de validade das cláusulas do Acordo Coletivo mantidas pelo TST?
As cláusulas mantidas pela sentença normativa do TST terão validade por um ano, vigorando até a data-base de 1º de agosto. Após essa data, as negociações entre a empresa e os sindicatos deverão ser reiniciadas “do zero” a partir de 2026.
Por que os trabalhadores dos Correios entraram em greve?
Os trabalhadores entraram em greve em meio a uma campanha salarial, buscando a garantia de seus direitos e a reposição inflacionária de salários. O movimento também refletiu a preocupação com a crise financeira da estatal e os planos de reestruturação que incluem fechamento de agências e demissões.
Mantenha-se informado sobre os desdobramentos das negociações trabalhistas e o futuro dos serviços públicos acompanhando as notícias e análises especializadas.
Jornal Imprensa Regional O Jornal Imprensa Regional é uma publicação dedicada a fornecer notícias e informações relevantes para a nossa comunidade local. Com um compromisso firme com o jornalismo ético e de qualidade, cobrimos uma ampla gama de tópicos, incluindo:

