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São Silvestre: um século de história e legado no esporte brasileiro

ANUNCIO COTIA/LATERAL

A Corrida Internacional de São Silvestre, um dos eventos esportivos mais emblemáticos do Brasil e da América Latina, atinge este ano a notável marca de sua centésima edição. Criada em 1925 por Cásper Líbero, jornalista e empresário visionário, a prova paulistana transcendeu o tempo, transformando-se em um símbolo de celebração, superação e pertencimento. A São Silvestre não é apenas uma corrida de fim de ano; ela coroa atletas lendários e atrai anualmente milhares de corredores, amadores e profissionais, para as ruas da capital paulista. Este centenário é um marco que reafirma a importância cultural e esportiva de um evento que moldou gerações e continua a inspirar o país com histórias de resiliência e paixão.

As origens de um ícone nacional

A visão de Cásper Líbero e as primeiras edições

A inspiração para a Corrida de São Silvestre brotou das ruas de Paris, onde Cásper Líbero observou corridas noturnas de rua. De volta ao Brasil, ele idealizou um evento semelhante para fechar o ano em São Paulo. Em 1925, a primeira edição da prova reuniu 48 corredores, um número modesto se comparado à grandiosidade atual, mas que já carregava a essência de sua permanência. Desde o princípio, a visão de Líbero era vincular a última noite do ano com as celebrações do Réveillon, convidando a todos para um novo ciclo. Conforme relatado pelo jornalista e diretor-executivo da São Silvestre, Erick Castelhero, “a ideia era sempre linkar ali a última noite do ano com o Réveillon e já chamando para um novo ano. Talvez o Cásper não imaginasse que ia chegar ao que ela é hoje.”

Nos seus primeiros anos, a competição era restrita a atletas brasileiros. O primeiro a cruzar a linha de chegada foi Alfredo Gomes, um nome que ecoa não apenas como pioneiro da São Silvestre, mas também como o primeiro atleta brasileiro negro a representar o país nos Jogos Olímpicos. A vitória de Gomes marcou o início de uma tradição que, desde então, se enraizou profundamente na cultura esportiva nacional, abrindo caminho para o reconhecimento de talentos locais e consolidando a prova como um palco para o surgimento de novos heróis.

A internacionalização e a quebra de paradigmas

A era dos estrangeiros e o retorno da glória brasileira

O ano de 1945 marcou um ponto de inflexão na história da São Silvestre, com a abertura da prova para corredores estrangeiros. Essa mudança elevou o nível competitivo e a visibilidade internacional do evento, mas também iniciou um longo período de jejum para os atletas brasileiros, que passaram décadas sem conquistar o primeiro lugar. O hiato foi quebrado de forma memorável em 1980, com a histórica vitória de José João da Silva. Atleta do São Paulo Futebol Clube, José João recorda o impacto daquele triunfo, assumindo a liderança nos metros finais da corrida: “Ali eu não tinha ideia, para te falar a verdade, do tamanho da vitória. Parou o país, foi uma Copa do Mundo. Essa vitória foi um marco grande.” Cinco anos depois, ele repetiria o feito, cimentando seu lugar como um dos poucos brasileiros bicampeões da São Silvestre.

A crescente reputação da São Silvestre atraiu atletas de elite de diversas partes do mundo. Entre eles, destaca-se a mexicana María del Carmen Díaz, tricampeã da prova em 1989, 1990 e 1992. Treinando em uma região de vulcões próxima à sua cidade natal, Toluca, María superou o calor intenso de São Paulo para vencer sua primeira São Silvestre, disputada pela primeira vez no período da tarde. Ela guarda com carinho o apoio do público brasileiro: “Eu realmente admiro o público brasileiro porque, como sempre disse, fui mais reconhecida em outro país do que no próprio México. Sinto orgulho porque há corredoras, corredores e crianças que me dizem que, por minha causa, praticam esportes e gostam de corridas.” Sua história exemplifica a conexão profunda que a corrida estabelece entre atletas e espectadores.

A inclusão feminina e a força inspiradora

Por 50 edições, a São Silvestre foi um evento exclusivamente masculino. Somente a partir da 51ª edição, a prova passou a incluir uma categoria feminina, marcando um passo fundamental para a igualdade no esporte. A maior vencedora entre as mulheres é a portuguesa Rosa Mota, com seis títulos consecutivos que não só estabeleceram um recorde, mas também inspiraram uma nova geração de corredoras.

No Brasil, a força inspiradora de atletas como Rosa Mota foi sentida por Maria Zeferina Baldaia. Quando criança, Maria assistia às vitórias da portuguesa pela televisão e sonhava em seguir seus passos. Contudo, o caminho até a glória na São Silvestre foi árduo. “Eu corri durante 15 anos descalça porque eu não tinha tênis, meus pais não tinham condições de comprar e mesmo assim eu continuei correndo. Eu tinha o objetivo de ajudar minha família”, relembra Maria. Treinando nos canaviais de Sertãozinho, no interior de São Paulo, Maria Zeferina deu os primeiros passos que a levariam à inesquecível vitória da São Silvestre em 2001. Seu título não transformou apenas a vida de sua família, mas também fortaleceu a cultura esportiva em sua cidade, que hoje orgulhosamente conta com um centro olímpico batizado com seu nome. “E hoje eu poder estar fazendo o que eu ainda faço, que é correr e poder treinar e ver as crianças, jovens e adultos, isso não tem preço”, afirma.

Um fenômeno popular e a maior edição da história

Mais que uma corrida, uma celebração de superação

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Ao longo de um século, a São Silvestre transcendeu seu status de competição esportiva para se consolidar como um verdadeiro fenômeno popular. Milhares de atletas amadores de todas as partes do Brasil se reúnem anualmente na Avenida Paulista para celebrar a virada do ano, a superação de limites pessoais e a paixão intrínseca pela corrida. É um momento de união e congraçamento, onde histórias de vida se entrelaçam com o asfalto.

Entre as muitas histórias de resiliência, destaca-se a de Ana Garcez, carinhosamente conhecida na comunidade do atletismo como “Ana Animal”. Com sua irreverência e notáveis resultados, Ana superou adversidades severas, incluindo um período morando nas ruas. Hoje, ela tem a oportunidade de percorrer essas mesmas vias, celebrando a corrida como um propósito de vida. “A corrida me trouxe perseverança, me trouxe alegria. Se não fosse a corrida, hoje eu não estava falando aqui com você”, conclui Ana, cuja trajetória inspira a muitos a encontrar na corrida um caminho para a transformação pessoal.

O centenário e a diversidade na pista

Para marcar seu centenário, a Corrida de São Silvestre deste ano está projetada para ser a maior edição de sua história. A expectativa é que aproximadamente 55 mil participantes tomem as ruas de São Paulo, evidenciando o crescimento contínuo e a relevância da prova. A corrida abraça a diversidade, com categorias que incluem disputas femininas, masculinas e para pessoas com deficiência.

Além da prova principal, a São Silvestrinha, um evento dedicado a crianças e adolescentes, reúne cerca de duas mil jovens de diversas regiões do país. Essa iniciativa é crucial para cultivar uma nova geração de apaixonados por corrida, transmitindo os valores de esporte, saúde e superação desde cedo. O centenário da São Silvestre não é apenas uma retrospectiva de um século de glórias, mas também um olhar para o futuro, garantindo que o legado de Cásper Líbero continue a inspirar e a mover milhões de brasileiros.

Perguntas frequentes sobre a São Silvestre

1. Quem criou a Corrida de São Silvestre e quando foi a primeira edição?
A Corrida de São Silvestre foi idealizada e criada em 1925 pelo jornalista e empresário Cásper Líbero. A primeira edição ocorreu no mesmo ano, com a participação de 48 corredores.

2. Quais são alguns dos marcos históricos da São Silvestre em termos de inclusão e desempenho?
Em 1945, a prova foi aberta para atletas estrangeiros, e em 1980, José João da Silva quebrou um longo jejum brasileiro de vitórias. A inclusão da categoria feminina ocorreu somente na 51ª edição da corrida, marcando um avanço significativo para a participação das mulheres no esporte.

3. Como a São Silvestre se tornou um fenômeno popular?
Ao longo de um século, a São Silvestre consolidou-se como um evento que atrai não apenas atletas de elite, mas também milhares de corredores amadores de todo o país. A prova se tornou uma celebração da virada do ano, da superação pessoal e da paixão por correr, unindo pessoas em um espírito de confraternização na Avenida Paulista.

4. O que é a São Silvestrinha e qual seu objetivo?
A São Silvestrinha é um evento paralelo à Corrida de São Silvestre, dedicado a crianças e adolescentes. Seu objetivo é reunir jovens de diversas partes do país, incentivando a prática esportiva desde cedo e formando uma nova geração de apaixonados pela corrida.

Não perca a chance de se inspirar na rica história da Corrida de São Silvestre. Seja acompanhando os atletas na pista ou buscando sua própria superação, a São Silvestre é um convite à celebração do esporte e da vida.

Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br

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