A vibrante exposição “Geometria visceral”, do renomado artista plástico Gilberto Salvador, está em cartaz no Paço Imperial, no centro do Rio de Janeiro, convidando o público a uma imersão em mais de seis décadas de sua prolífica jornada criativa. Apresentando cerca de 40 obras, incluindo pinturas, esculturas e vídeos, a mostra representa um aguardado retorno do artista à capital fluminense, 17 anos após sua última exposição local. Aberta para visitação até 1º de março do próximo ano, a curadoria cuidadosamente selecionada revela as diversas fases de Salvador, cada uma refletindo um momento particular de sua vida e carreira, desde os trabalhos políticos de resistência até as composições que celebram a exuberância da natureza brasileira.
A “Geometria visceral” no coração do Rio
A exposição “Geometria visceral” ocupa os três salões do segundo andar do histórico prédio do Paço Imperial, oferecendo um cenário imponente e adequado para as obras de Gilberto Salvador. A seleção abrange trabalhos desenvolvidos ao longo de uma carreira que ultrapassa os 60 anos, mostrando a evolução estética e temática do artista.
Retorno aguardado após 17 anos
A ausência de Gilberto Salvador do circuito expositivo carioca por quase duas décadas torna esta mostra um evento significativo. Sua volta ao Rio, cidade pela qual nutre um carinho especial e que frequentemente inspira seus trabalhos, é celebrada com esta curadoria abrangente. Os visitantes terão a oportunidade de ver obras que foram destaque desde as décadas de 1960 e 1970, lado a lado com a produção mais recente do artista, criando um diálogo entre diferentes épocas e estilos que marcam sua trajetória. A amplitude das mídias — de telas vibrantes a esculturas táteis e vídeos experimentais — promete uma experiência rica e diversificada.
Mais de seis décadas de arte: política, natureza e cores
A trajetória artística de Gilberto Salvador é um espelho de sua vida e das transformações sociais e ambientais que o cercaram. Sua arte é um testemunho de engajamento e adaptabilidade, atravessando períodos críticos da história brasileira e refletindo sobre temas universais.
Da crítica à ditadura ao abraço tropicalista
Ainda aos 18 anos, Gilberto Salvador realizou sua primeira exposição, revelando desde cedo um talento singular. Seus primeiros trabalhos, especialmente na década de 1960, ganharam uma forte identidade política, como na obra “Viu…!” de 1968, que se posicionou de forma crítica à ditadura militar vigente no Brasil. Salvador recordou que o período de coerção e limitações impulsionou sua expressão artística como forma de resistência. Utilizando linguagens acessíveis, como a de cartazes de cinema e histórias em quadrinhos, ele conseguiu transmitir mensagens contundentes e afirmativas, participando inclusive da Bienal de São Paulo com obras contestatórias.
Na década de 1970, sua arte tomou um novo rumo, inclinando-se para o discurso ecológico, influenciado por sua amizade com o paisagista Roberto Burle Marx e o arquiteto Oscar Niemeyer. “Existe um fator importante que é a natureza brasileira, difusa, maravilhosa e múltipla, onde as cores são vibrantes”, afirmou Salvador, explicando a virada em sua paleta.
A multifacetada linguagem artística
As cores, em particular, entraram nos trabalhos de Gilberto Salvador de forma intrínseca, não apenas como uma escolha conceitual, mas como uma expressão existencial de sua identidade tropicalista. Essa abordagem vibrante e orgânica é uma marca de sua produção. Ao longo de 60 anos, o artista explorou uma vasta gama de materiais e técnicas, demonstrando uma curiosidade e uma versatilidade notáveis. “Teve momentos em que usei até tapeçarias, produzi várias gravuras junto com pintura, cerâmica, escultura em bronze. Fiz muita coisa, porque felizmente ainda estou vivo”, descreveu, evidenciando sua paixão incessante pela criação e experimentação em diferentes linguagens plásticas.
O Rio de Janeiro e a arquitetura como inspiração
A relação de Gilberto Salvador com o Rio de Janeiro é profunda e multifacetada, permeando sua obra e sua perspectiva sobre o espaço e a paisagem. Sua formação em arquitetura também desempenhou um papel crucial em sua visão artística.
A paixão pela topografia carioca
Gilberto Salvador é um confesso apaixonado pelo Rio de Janeiro, especialmente por sua topografia única. Ele relembra com carinho suas viagens velejando de Ubatuba ao Rio, maravilhado com as formas e contornos da paisagem carioca. Além da beleza natural, a convivência positiva com os cariocas sempre foi um fator marcante em sua vida. Não é surpresa, portanto, que a cidade apareça em suas obras, com representações icônicas como o Pão de Açúcar e o Morro Dois Irmãos, que traduzem sua admiração e conexão com o local.
A influência fundamental da arquitetura
A formação em arquitetura e urbanismo foi, para Gilberto Salvador, um pilar fundamental em seu desenvolvimento artístico. “A faculdade de arquitetura dá uma leitura de espaço bastante crítica e construtiva e acabei me aproveitando”, comentou. Desde seus primeiros passos na pintura, quando fabricava as próprias tintas, ofício aprendido com o avô, até sua atuação como arquiteto e professor universitário, essa base conceitual moldou sua percepção tridimensional e sua abordagem espacial na arte, antes de se dedicar exclusivamente à expressão artística.
Arte para todos: A acessibilidade como princípio
A vida de Gilberto Salvador é marcada pela resiliência e pela busca incansável pela expressão, sempre com um olhar atento à experiência do público, o que se reflete na preocupação com a acessibilidade em sua mostra.
Uma vida de superação e expressão
Diagnosticado com paralisia infantil aos nove meses de idade, Gilberto Salvador viveu com as consequências da condição, tornando-se cadeirante após uma cirurgia. No entanto, ele enfatiza que isso nunca o impediu de perseguir seus desejos e paixões. “Eu nadei muito, mergulhei muito, velejei muito”, revelou, destacando uma vida de atividades intensas. Essa disposição, e não uma predisposição, como ele próprio define, foi o que o impulsionou à sequência de exposições e trabalhos no Brasil e no exterior. Para Salvador, a arte é uma via essencial para se expressar sentimentalmente e estabelecer conexão com os outros.
O toque como experiência artística
A preocupação com a acessibilidade é um ponto alto da exposição. Ao ser informado pela curadora Denise Mattar sobre a necessidade de incluir obras táteis, Salvador imediatamente indicou duas esculturas que se encaixavam perfeitamente. “Trouxemos duas pequenas esculturas para que a pessoa possa passar a mão e ter uma certa sensação do que eu penso da tridimensionalidade e do espaço”, explicou. Ele expressou o desejo de que, se dependesse apenas dele, todas as obras pudessem ser tocadas, reconhecendo, contudo, os riscos de danos. Para a curadora, essa iniciativa oferece uma experiência única, uma “leitura tátil” que vai além do convencional, permitindo uma interação mais profunda com a visão do artista.
O legado de Gilberto Salvador na arte brasileira
A importância de Gilberto Salvador para a arte brasileira é inegável, especialmente por sua atuação em um período de efervescência e ruptura.
Uma geração de ruptura e inovação
A crítica de arte Denise Mattar, responsável pela curadoria da exposição, descreve Gilberto Salvador como uma pessoa admirável, que, apesar de enfrentar desafios de saúde, jamais se vitimiza. Para Mattar, o trabalho de Salvador tem um papel crucial na arte brasileira, emergindo nos anos 1970 como parte de uma geração seleta de artistas que incluíam nomes como Rubens Gerchman, Carlos Vergara e Cildo Meireles. “São artistas que abriram as possibilidades do trabalho artístico. Foram os primeiros que fizeram objetos, que começaram a fazer com que a escultura saísse da parede e alcançasse outros caminhos”, destacou a curadora, ressaltando a relevância desse grupo para a inovação artística no país. Mattar, que conhece o trabalho do artista há muito tempo, teve total liberdade na seleção das obras, optando por focar na produção contemporânea, mas sem deixar de incluir referências históricas, dada a longa ausência de Salvador no Rio. A curadora observou que a obra de Gilberto transita constantemente entre o geométrico e o orgânico, uma constatação que inspirou o título da mostra: “Geometria visceral”. Ao apresentá-lo ao artista, Salvador respondeu: “isso não é um título, é um resumo do meu trabalho”, confirmando a pertinência da escolha.
Um convite à reflexão e à experiência artística
A exposição “Geometria visceral” não é apenas um panorama da vasta obra de Gilberto Salvador; é um convite à reflexão sobre a história, a natureza, a política e a própria essência da arte. Através de uma jornada que perpassa o engajamento social, a celebração da paisagem brasileira e a experimentação com diversas linguagens, o artista demonstra sua resiliência e sua paixão inabalável pela criação. A mostra no Paço Imperial é uma oportunidade singular para o público carioca e visitantes se reconectarem com um dos grandes nomes da arte contemporânea brasileira, experimentando a fusão única entre o rigor geométrico e a emoção visceral que define a trajetória de Gilberto Salvador.
Perguntas frequentes (FAQ)
Onde a exposição “Geometria visceral” está localizada?
A exposição está instalada nos três salões do segundo andar do prédio do Paço Imperial, no centro do Rio de Janeiro.
Qual o período de visitação da mostra de Gilberto Salvador?
A mostra estará aberta ao público até 1º de março do próximo ano, proporcionando um período estendido para sua visitação.
Quantas obras estão expostas e qual a sua variedade?
A exposição conta com cerca de 40 obras, abrangendo diversas linguagens artísticas, como pinturas, esculturas e vídeos.
Como a acessibilidade é abordada na exposição?
A mostra inclui duas esculturas selecionadas para que os visitantes possam tocá-las, oferecendo uma experiência tátil e inclusiva que permite uma compreensão mais profunda da tridimensionalidade na obra do artista.
Não perca a chance de mergulhar neste universo artístico singular. Visite a exposição “Geometria visceral” no Paço Imperial e descubra as múltiplas facetas de Gilberto Salvador.
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