A Câmara dos Deputados se viu mergulhada em um intenso debate político com a decisão de pautar o Projeto de Lei (PL) 2162/23, conhecido como PL da Dosimetria. A medida, que visa reduzir as penas para indivíduos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, gerou forte oposição de diversas bancadas. Lindbergh Farias (PT-RJ), líder da federação PT-PCdoB e PV na Casa, classificou a iniciativa como “escandalosa”, alertando para os riscos de instrumentalização do Parlamento para beneficiar figuras específicas, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro e militares. A controvérsia sobre a dosimetria das penas para os condenados pelos eventos de 8 de janeiro reacende discussões sobre justiça, anistia e a autonomia dos poderes.
PL da dosimetria: uma votação polêmica
Controvérsia em torno do Projeto de Lei 2162/23
A decisão de colocar em votação o Projeto de Lei 2162/23, que propõe a redução de penas para aqueles envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023, provocou uma onda de críticas e debate acalorado no Congresso Nacional. O líder da federação PT-PCdoB e PV na Câmara, deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), foi veemente ao classificar a medida como “escandalosa”. Segundo Farias, a proposta representa um movimento inédito e inaceitável na história política brasileira, pois visa, de forma oportunista, reduzir as sentenças de figuras proeminentes, como o ex-presidente Jair Bolsonaro e oficiais militares, que foram julgados por sua participação em uma trama golpista.
O PL 2162/23, apelidado de PL da Dosimetria, teve sua votação anunciada pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), após uma reunião com líderes partidários. A matéria é amplamente considerada polêmica desde sua concepção. Inicialmente, a proposta previa uma anistia abrangente para todos os envolvidos, direta ou indiretamente, em manifestações ocorridas após o segundo turno das eleições de 2022, cujo objetivo declarado era impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2023. No entanto, o relator do projeto, deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), optou por uma alternativa, focando na redução das penas para os já condenados pelos atos de 8 de janeiro. Apesar de ter sua urgência aprovada em outro momento, o projeto enfrentou forte resistência e nunca havia chegado ao plenário para votação final até agora.
Lindbergh Farias argumenta que toda lei deve ser geral e aplicável a todos, e que a atual versão do PL da Dosimetria parece ser uma medida claramente específica, desenhada para beneficiar o ex-presidente Bolsonaro. A crítica central reside na percepção de que o Parlamento estaria se desviando de seu papel legislativo universal para atender a interesses políticos pontuais, comprometendo a isonomia jurídica e a punição adequada para crimes contra o Estado democrático de direito. A discussão sobre a justiça e a equidade na aplicação da lei se torna, assim, um ponto nevrálgico do debate.
Acusações de negociação política e pressões
O elo entre o PL da dosimetria e movimentos políticos
A decisão de pautar o PL da Dosimetria ganhou contornos ainda mais controversos diante de alegações de negociação política e pressões externas. Lindbergh Farias destacou que a inclusão da matéria na agenda de votação ocorreu logo após o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente, anunciar sua pré-candidatura à Presidência da República na sexta-feira (5) e, subsequentemente, condicionar a retirada de sua pré-candidatura à votação do projeto de anistia para os condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro.
Farias, durante coletiva de imprensa, afirmou ter “informação segura” de que a votação foi articulada em uma reunião ocorrida na noite de segunda-feira (8), envolvendo Flávio Bolsonaro e os presidentes do União Brasil, Antônio Rueda, e do PP, Ciro Nogueira. Para o líder petista, essa sequência de eventos indica que um “preço” começou a ser pago em troca da retirada de uma potencial candidatura, o que configuraria uma barganha política inaceitável em torno de uma questão de justiça e responsabilização.
O presidente da Câmara, Hugo Motta, por sua vez, refutou as acusações de ceder a pressões de aliados do ex-presidente. Motta afirmou que a decisão de pautar o PL foi exclusivamente sua e não teve como objetivo atender a pedidos de ninguém. Segundo ele, o momento seria oportuno porque a matéria estaria “madura” para ser levada ao plenário. No entanto, a explicação de Motta não dissipou as suspeitas da oposição, que continuam a ver a pauta como uma manobra política.
A iniciativa foi celebrada pelo líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcanti (PL-RJ), partido do ex-presidente Bolsonaro. Sóstenes reiterou que a legenda defende a anistia completa, mas se comprometeu a não apresentar destaques para alterar pontos do texto que prevê a redução de penas. Em uma rede social, Cavalcanti declarou: “A redução de penas é apenas o primeiro degrau. Nossa luta segue por aquilo que sempre defendemos: anistia é anistia. Sem adjetivos, sem meios-termos”. Essa declaração reforça a percepção de que a redução de penas é vista por parte da base bolsonarista como um passo inicial em direção a uma anistia total, o que intensifica o receio da oposição quanto aos reais propósitos do projeto.
Outras pautas controversas na Câmara
Cassação de mandatos e a “bancada de foragidos”
Além do PL da Dosimetria, Lindbergh Farias também criticou a decisão de Hugo Motta de levar a plenário as decisões sobre a cassação dos mandatos das deputadas Carla Zambelli (PL-SP) e Alexandre Ramagem (PL-RJ). O líder petista argumenta que, nesses casos, a cassação deveria ter sido efetuada por ato da Mesa Diretora da Câmara, em conformidade com decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). Farias ressaltou que Zambelli e Ramagem são condenados com trânsito em julgado, e as decisões judiciais indicam que a Mesa da Câmara deveria ter afastado os parlamentares imediatamente.
Carla Zambelli foi condenada pelo STF a 10 anos de prisão, multa e perda do mandato por envolvimento na invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A deputada, no entanto, evadiu-se para a Itália em julho, pouco antes de sua prisão ser decretada. Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no governo Bolsonaro, também está foragido, atualmente em Miami, nos Estados Unidos, após ser condenado a 16 anos de prisão.
A inação da Mesa Diretora nesses casos levou Farias a apontar para a existência de uma “bancada de foragidos”, que, segundo ele, incluiria também o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), ausente do país desde março deste ano. O deputado do PT enfatizou que decisões judiciais devem ser cumpridas sem tardar. Farias lembrou que foram protocolados vários pedidos de cassação contra Eduardo Bolsonaro e que ele mesmo havia feito uma reclamação formal ao presidente Hugo Motta sobre a existência dessa “bancada”, afirmando-o diretamente na frente do presidente da Casa.
Em um desdobramento que Farias classificou como “surpreendente”, Motta também pautou a cassação do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ). Essa decisão, em contraste com a lentidão nos casos de Zambelli e Ramagem, adiciona mais uma camada de complexidade e questionamento sobre a seletividade na gestão da pauta de votações na Câmara, levantando dúvidas sobre a coerência e a imparcialidade das decisões do comando da Casa.
Conclusão
A Câmara dos Deputados está no centro de um furacão político, onde a pauta de votações reflete tensões profundas e conflitos de interesse. A decisão de pautar o PL da Dosimetria, em meio a acusações de negociações políticas para beneficiar figuras específicas, acende um alerta sobre a integridade do processo legislativo. A controvérsia se estende à gestão dos casos de cassação de mandatos, com a oposição criticando a inação em relação a parlamentares condenados judicialmente enquanto outros casos são priorizados. O embate entre a busca por justiça e a percepção de manobras políticas define o atual cenário do Congresso, com implicações significativas para a democracia brasileira e a percepção pública sobre a accountability política. Os desdobramentos dessas votações moldarão o futuro do debate sobre os atos de 8 de janeiro e a aplicação da lei no país.
FAQ
1. O que é o PL 2162/23, também conhecido como PL da dosimetria?
O PL 2162/23 é um Projeto de Lei em tramitação na Câmara dos Deputados que propõe a redução das penas para indivíduos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Inicialmente, cogitava-se uma anistia total, mas a versão atual visa apenas a diminuição das sanções.
2. Por que a votação do PL da dosimetria é considerada polêmica?
A votação é polêmica por diversos motivos: ela é vista por críticos como uma manobra para beneficiar figuras específicas, como o ex-presidente Jair Bolsonaro, e ocorre em um momento politicamente sensível, com acusações de negociações e barganhas políticas em troca de apoio ou retirada de candidaturas. Além disso, a proposta de reduzir penas para atos contra o Estado democrático de direito gera grande indignação.
3. Qual a relação entre o PL da dosimetria e as cassações de mandato na Câmara?
A relação reside na crítica da oposição à suposta seletividade da presidência da Câmara. Enquanto o PL da dosimetria avança, casos de cassação de mandatos de parlamentares já condenados pela justiça (como Carla Zambelli e Alexandre Ramagem) estariam sendo negligenciados pela Mesa Diretora, gerando acusações de dois pesos e duas medidas na condução da pauta e da justiça.
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