© Bruno Peres/Agência Brasil

Extrativistas protestam na cop30 por direitos e proteção da floresta

Sob o lema “a morte da floresta é o fim da nossa vida”, centenas de líderes extrativistas de diversos biomas brasileiros marcharam pelas ruas de Belém, na tarde de quinta-feira, em defesa de seus direitos territoriais e do papel fundamental das reservas de uso sustentável para o equilíbrio ecológico e os serviços ambientais essenciais no combate às mudanças climáticas globais.

O ato, denominado Porongaço dos Povos da Floresta, reuniu seringueiros, castanheiros, ribeirinhos, pescadores artesanais, quebradeiras de coco e outras comunidades tradicionais. A manifestação iluminou a capital paraense com o brilho das porongas, lamparinas tradicionalmente usadas por seringueiros para percorrer as trilhas na floresta, um símbolo da luta histórica do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), fundado em 1985.

Na década de 1970, sob a liderança de Chico Mendes nos seringais do Acre, o movimento extrativista ganhou voz e articulação política para enfrentar a violência, a grilagem de terras e a destruição ambiental.

O percurso da marcha foi organizado como uma atividade paralela à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que acontece em Belém.

Letícia Moraes, vice-presidente do CNS, enfatizou a profunda conexão das populações extrativistas com o território. “Nós, populações extrativistas, compreendemos o território como extensão dos nossos corpos. Então, se a floresta não está bem, se os rios não estão bem, se o maretório [área costeira] não está bem, nós não estamos bem”, afirmou. Ela destacou que “já está comprovado cientificamente que os únicos territórios que possuem floresta viva são territórios que estão sobre responsabilidade e cuidado das comunidades tradicionais”.

Dados do CNS indicam que as reservas e projetos de assentamento agroextrativistas protegem mais de 42 milhões de hectares de florestas e rios, representando 5% do território nacional. Estima-se que essas áreas armazenem aproximadamente 25,5 bilhões de toneladas de CO2 equivalente, o que corresponde a cerca de 11 anos das emissões totais do Brasil.

Na COP30, as comunidades extrativistas brasileiras contam com um enviado especial, o líder extrativista Joaquim Belo, que busca garantir que os serviços ecossistêmicos prestados por essas populações sejam incluídos como metas de mitigação das mudanças climáticas. “Nós somos solução para diversos problemas das mudanças climáticas, porque nós cuidamos da floresta e ela tem esse papel no equilíbrio climático”, declarou Belo.

Ao final da marcha, um documento do CNS foi entregue à ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva. O documento lista uma série de demandas, incluindo o reconhecimento formal das reservas extrativistas, reservas de desenvolvimento sustentável e demais territórios tradicionais na Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) brasileira e nos tratados climáticos nacionais e internacionais, pela contribuição para a redução do desmatamento, a manutenção da vegetação nativa e a conservação de estoques de carbono.

A carta também solicita que “esses territórios sejam priorizados em políticas de adaptação e mitigação, com investimentos consistentes e permanentes, com recursos públicos e privados voltados à proteção territorial, apoio à gestão comunitária, fortalecimento da vigilância territorial e ampliação de incentivos a práticas sustentáveis de uso da floresta”.

Em seu discurso, Marina Silva ressaltou o papel de guardiões da floresta das comunidades extrativistas. “Vocês têm uma vida que ajuda a resolver o problema da mudança do clima. Tem gente que, para enfrentar os problemas que a gente está vivendo, tem que ter uma tecnologia para poder fazer isso”, afirmou.

A ministra ainda complementou: “A tecnologia dos indígenas, dos seringueiros, dos ribeirinhos, dos babaçueiros, dos geraizeiros, das quebradeiras de coco é o seu próprio modo de vida que protege de floresta, a biodiversidade, que sequestra carbono e ainda funciona como o coração do planeta pulsando em cultura, diversidade e beleza. Mas, tem uma coisa, é preciso que as políticas públicas sejam cada vez mais ampliadas”.

Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br

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