Ele se encolheu na caminha, dormiu mais do que o normal e recusou aquele passeio que antes o enchia de alegria. À primeira vista, pode parecer apenas preguiça de inverno, mas em pets com mais de sete anos que já são considerados idosos, esses sinais podem esconder alertas importantes. Alguns cuidados simples podem fazer toda a diferença para protegê-lo nessa estação.
O frio pode até ser charmoso, mas, assim como os humanos, cães e gatos também sentem seus efeitos. Com a idade, essa sensibilidade aumenta. O metabolismo fica mais lento, há perda de massa muscular e a imunidade tende a cair, tornando os pets mais velhos mais suscetíveis a doenças, dores e desconfortos que muitas vezes passam despercebidos.
O inverno traz consigo um aumento típico de doenças respiratórias, como a tosse dos canis e a rinotraqueíte felina, ambas altamente contagiosas e potencialmente perigosas para os idosos. Os sintomas variam de espirros e tosse até febre e apatia. Em casos mais graves, pode evoluir para pneumonia, exigindo hospitalização. Por isso, verifique se as vacinas estão em dia e evite expor seu pet a ambientes desprotegidos. Eles devem ficar abrigados, longe de correntes de ar e da umidade da chuva.
Outros sintomas silenciosos também podem surgir. Seu pet anda com menos agilidade? Está batendo em escadas ou hesitando ao pular? Isso pode indicar intensificação de dores causadas por artrose, artrite ou displasia coxofemoral, doenças articulares comuns em pets idosos que se agravam no frio.
Além disso, animais com problemas cardíacos ou respiratórios crônicos sofrem mais nessa época do ano, assim como aqueles com doenças metabólicas, como diabetes, hipotireoidismo ou insuficiência renal. A queda de temperatura pode diminuir a ingestão de água, aumentar a retenção urinária e agravar quadros aparentemente controlados, inclusive provocando infecções urinárias.
“Mas é possível dar banho no inverno?”
Sim, é possível, com atenção redobrada. Use água morna, seque bem com toalha e secador (também morno), e evite os banhos em dias de frio intenso. Se for ao pet shop, leve um cobertor para envolvê-lo ao sair, protegendo-o da diferença brusca de temperatura. Em algumas situações, banhos a seco são boas alternativas.
Talvez você se pergunte por que, em outros países, os cães parecem sofrer menos no frio. A resposta está na genética e na arquitetura. Raças como Husky Siberiano ou São Bernardo foram desenvolvidas para suportar temperaturas extremas, com pelagens espessas e metabolismo adaptado. Além disso, as casas nesses países costumam ter aquecimento e isolamento térmico, ao contrário das nossas, que muitas vezes são frias e úmidas.
Como ajudar seu pet idoso neste inverno?
Ofereça a ele o que você também gostaria de ter: caminhas bem forradas, roupinhas confortáveis, ambientes sem correntes de ar e um cantinho com sol, que eles adoram. E, principalmente, atenção e escuta. Observe se ele está tremendo, evitando se movimentar ou mais quieto que o habitual. Esses sinais valem mais que palavras.
A partir dos sete anos, check-ups e visitas regulares ao veterinário são essenciais. Exames preventivos ajudam a detectar doenças em estágios iniciais, reduzindo o sofrimento e os custos com tratamentos mais complexos.
Cuidar de um pet idoso é um privilégio. É retribuir uma vida de lealdade com afeto, respeito e atenção. No inverno, esse cuidado precisa ser visível, palpável e diário. Afinal, o frio pode ser inevitável, mas o amor é o melhor cobertor que ele pode ter.
Perfil:
Priscila Gomes Gioso é Médica Veterinária, formada pela UNISA em 2000, com Especialização em Gestão Hospitalar e dois MBAs: em Gestão de Processos e em Inteligência Artificial aplicada à Saúde pela USP. É proprietária do Hospital Veterinário Allpri Vet e sócia do Hospital Strix, atuando com foco em excelência no atendimento aos pets. Também é sócia da VetCoaches e da Chatmedx, empresa de IA para a área médica.