O cenário da gestão de resíduos sólidos urbanos (RSU) no Brasil em 2024 revela uma realidade complexa, marcada pelo aumento na produção de resíduos urbanos e, simultaneamente, por uma melhora na destinação ambientalmente adequada. Neste período, o país gerou impressionantes 81,6 milhões de toneladas de RSU, um acréscimo de 0,75% em comparação ao ano anterior. Esse volume equivale a uma média diária de 1,241 quilo por habitante ou 384 quilos anuais. Embora a maior parte desses resíduos (93,7%) tenha sido coletada, o grande desafio reside ainda na disposição final, com parcelas significativas sendo encaminhadas para locais inadequados. Contudo, dados recentes apontam um progresso notável na porcentagem de material que recebe tratamento apropriado, indicando um caminho, ainda que lento, rumo à sustentabilidade.
Crescimento na geração de resíduos e desafios persistentes
Panorama atual e o dilema dos lixões
Em 2024, a quantidade de resíduos sólidos urbanos gerados no Brasil atingiu a marca de 81,6 milhões de toneladas, um aumento que reflete, entre outros fatores, o crescimento populacional e o padrão de consumo. Desse montante colossal, 76,4 milhões de toneladas foram efetivamente coletadas, demonstrando a eficiência da coleta em grande parte do território nacional. No entanto, o gargalo persiste na etapa seguinte: a destinação final. Apenas 41,4 milhões de toneladas, equivalentes a 59,7% do total coletado, foram encaminhadas para aterros sanitários, classificados como destinação ambientalmente adequada.
Apesar da disposição final inadequada ainda representar 40,3% do total de resíduos gerados, é importante notar que este dado representa uma melhora em relação ao ano anterior, quando 41,5% do RSU era despejado em locais impróprios, como lixões ou enterrado em propriedades. Essa pequena, mas significativa, redução aponta para os esforços contínuos em regularizar a cadeia de gestão de resíduos. No entanto, mesmo com o avanço da legislação, que em 2024 proibiu todas as formas de destinação irregular nos municípios, estima-se a existência de quase 3 mil lixões. Estes locais não apenas representam um risco iminente à saúde pública e ao meio ambiente, acumulando passivos ambientais, mas também significam a perda de potenciais “ativos econômicos” para o país, conforme apontam especialistas do setor.
Municípios de pequeno porte, especialmente aqueles com até 50 mil habitantes, enfrentam os maiores desafios na eliminação de lixões e na implantação de aterros sanitários. A Confederação Nacional de Municípios (CNM) destaca que o encerramento dos lixões e a operação de aterros sanitários exigem um apoio federativo robusto, com a União e os estados fornecendo suporte técnico e financeiro. Os altos custos operacionais e a dificuldade em encontrar áreas que atendam aos rigorosos critérios da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) – que consideram tipo de solo, proximidade com lençóis freáticos e áreas urbanas – são barreiras significativas. Em regiões como o Norte do país, encontrar um local que cumpra todas as exigências pode ser quase impossível. Além disso, em estados com municípios de grande extensão territorial e baixa densidade populacional, a formação de consórcios para atingir a escala de mais de 100 mil habitantes se torna inviável devido à necessidade de estações de transbordo, o que eleva os custos e dificulta a gestão.
Avanços em reciclagem e valorização energética
Recuperação de materiais e a nova frente bioenergética
A reciclagem de resíduos secos no Brasil demonstrou um engajamento crescente em 2024. Aproximadamente 7,1 milhões de toneladas de resíduos secos foram enviados para reciclagem, o que corresponde a 8,7% do volume total de RSU gerado. Deste total, 2,5 milhões de toneladas foram provenientes do serviço público de coleta, enquanto uma parcela maior, de 4,6 milhões de toneladas, foi coletada de maneira informal e encaminhada diretamente para os centros de reciclagem. Desse material, cerca de 2,5 milhões de toneladas (52%) foram efetivamente recuperadas, com o restante sendo destinado como rejeito. Essa performance, embora promissora, ainda indica um vasto campo para expansão e otimização dos processos.
É relevante notar que a produção de plástico reciclado no Brasil registrou um crescimento de 8% em 2024, evidenciando uma maior inserção desse material na economia circular. Além disso, o país manteve sua posição de destaque na reciclagem de latinhas de alumínio, alcançando uma taxa de 97,3% no mesmo período, um modelo de sucesso que serve de inspiração para outros materiais.
Pela primeira vez, análises aprofundadas sobre o reaproveitamento de resíduos orgânicos e não recicláveis para a produção de energia foram incluídas nos estudos sobre resíduos. Este novo conceito, denominado reciclagem bioenergética, engloba o uso de Combustível Derivado de Resíduo (CDR), a produção de biogás e biometano, e a compostagem. A metodologia unificou o reaproveitamento de materiais orgânicos e de outros inviabilizados para reciclagem de secos, como papéis contaminados por matéria orgânica. A própria Política Nacional de Resíduos Sólidos reconhece o uso de resíduos na geração de outros elementos aproveitáveis como uma forma legítima de reciclagem.
Os dados revelam que a reciclagem bioenergética alcança um percentual maior no tratamento de resíduos orgânicos do que a recuperação de materiais empregada na reciclagem mecânica de secos, como papel, vidro, plástico e alumínio. Ao quantificar de forma unificada, a transformação de orgânicos em energia ou composto abrange 11,7% do total de resíduos gerados, superando os 8,7% alcançados pela reciclagem mecânica de secos. Isso ressalta o enorme potencial da valorização energética como um componente crucial na gestão integrada de resíduos, especialmente considerando o grande volume de orgânicos na composição do RSU brasileiro.
Logística reversa e o futuro da economia circular
Expansão de sistemas e desafios de implementação
A edição do panorama de resíduos de 2024 também trouxe uma análise detalhada da situação da logística reversa no Brasil. O país conta com 13 sistemas de logística reversa já estabelecidos, abrangendo uma ampla gama de produtos e materiais pós-consumo. Entre eles estão agrotóxicos, baterias de chumbo-ácido, eletrônicos, embalagens de aço, vidro e óleo lubrificante, embalagens em geral, óleos lubrificantes usados, lâmpadas, latas de alumínio, medicamentos, pilhas e pneus.
Os dados gerais sobre a logística reversa são vistos como positivos, indicando uma evolução consistente na adoção de um modelo de economia circular no país. Um marco importante para 2025 é a publicação do Decreto 12.688/2025, conhecido como “Decreto do Plástico”, que promete expandir de 13 para 14 o número de materiais incluídos nesse ciclo de economia circular. Essa medida é considerada um impulsionador significativo para toda a cadeia da gestão de resíduos, ampliando as responsabilidades e as oportunidades para o retorno de materiais ao ciclo produtivo.
No entanto, a implementação plena da logística reversa e a expansão de infraestruturas de tratamento de resíduos enfrentam desafios consideráveis, especialmente para municípios de menor porte. A Confederação Nacional de Municípios (CNM) reforça que, embora a geração de energia a partir de resíduos seja uma alternativa promissora, ela possui um alto custo de implementação e operação. Estudos apontam sua viabilidade econômica apenas para municípios ou consórcios que atendam a uma população superior a 300 mil habitantes. A CNM também alerta que qualquer modelo de geração de energia deve se basear predominantemente em rejeitos – ou seja, resíduos que não possuem viabilidade para reciclagem – para não gerar exclusão social de catadores e catadoras, que desempenham um papel fundamental na cadeia de reciclagem de materiais secos. A transição para uma economia circular e a eliminação completa dos lixões exigem, portanto, não apenas inovações tecnológicas e regulatórias, mas também um forte engajamento e apoio multissetorial para superar as barreiras econômicas e sociais.
Rumo a uma gestão de resíduos mais sustentável
O cenário da gestão de resíduos sólidos urbanos no Brasil em 2024 é um retrato de contrastes e oportunidades. Enquanto a produção de resíduos continua em crescimento, desafiando a capacidade de manejo do país, observam-se avanços significativos na destinação adequada e na diversificação das estratégias de valorização, como a reciclagem mecânica e a emergente reciclagem bioenergética. A persistência de quase 3 mil lixões e os desafios enfrentados por municípios menores sublinham a urgência de uma atuação federativa mais coordenada e de investimentos robustos em infraestrutura e tecnologia. A expansão da logística reversa e a regulamentação do “Decreto do Plástico” sinalizam um compromisso crescente com a economia circular. Para transformar os resíduos de passivos ambientais em ativos econômicos e sociais, será fundamental que todos os setores da sociedade – governos, empresas e cidadãos – continuem a colaborar ativamente, buscando soluções inovadoras e equitativas que promovam um futuro mais sustentável para o manejo dos resíduos no Brasil.
Perguntas frequentes sobre a gestão de resíduos no Brasil
Qual o volume total de resíduos sólidos urbanos gerados no Brasil em 2024?
Em 2024, o Brasil gerou um total de 81,6 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos (RSU), representando um aumento de 0,75% em relação ao ano anterior.
Como a destinação adequada de resíduos evoluiu em 2024?
A destinação ambientalmente adequada de resíduos, principalmente para aterros sanitários, alcançou 59,7% do total coletado em 2024. Este número representa uma melhora em comparação aos 41,5% de disposição inadequada registrados no ano anterior, indicando um progresso na gestão.
O que é reciclagem bioenergética e qual sua importância no Brasil?
Reciclagem bioenergética é o reaproveitamento de resíduos orgânicos ou não recicláveis para a produção de energia, incluindo Combustível Derivado de Resíduo (CDR), biogás, biometano e compostagem. Em 2024, ela abrangeu 11,7% do total de resíduos gerados, superando a reciclagem mecânica de secos (8,7%) e destacando seu potencial para valorizar materiais que antes seriam descartados.
Quais os principais desafios para a gestão de resíduos em municípios menores?
Municípios com até 50 mil habitantes enfrentam grandes desafios, como os altos custos de operação e a dificuldade de encontrar áreas adequadas para aterros sanitários que cumpram as normas técnicas. Além disso, a viabilidade de consórcios para escala e a implantação de tecnologias como a geração de energia são financeiramente inviáveis para muitos, exigindo apoio técnico e financeiro dos níveis federal e estadual.
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