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Mãe Carmen de Oxaguian: legado de acolhimento e resistência ancestral

ANUNCIO COTIA/LATERAL

A comunidade religiosa e cultural do Brasil lamenta profundamente o falecimento de Mãe Carmen de Oxaguian, a venerada ialorixá do tradicional Terreiro do Gantois, localizado na Federação, em Salvador. A líder espiritual, filha mais nova da icônica Mãe Menininha do Gantois, partiu após cerca de duas semanas de internação no Hospital Espanhol, na Graça, devido a complicações de uma gripe. Seu passamento, ocorrido nesta última sexta-feira do ano, marca o fim de 23 anos de dedicação à frente de uma das casas de axé mais importantes do país. Mãe Carmen de Oxaguian deixa um legado imaterial de acolhimento, resistência e profunda espiritualidade, ecoando em sua numerosa família de filhos e filhas de santo, além de seus descendentes biológicos. A perda é sentida por milhares, reafirmando sua influência incontestável na preservação da fé afro-brasileira.

O legado de Mãe Carmen: guerreira, acolhedora e farol espiritual
Mãe Carmen de Oxaguian era reverenciada não apenas por sua posição de ialorixá, mas por sua postura de “guerreira” incansável na promoção da mudança, do crescimento e, acima de tudo, da paz. Seu legado de acolhimento e resistência transcende as paredes do Terreiro do Gantois, impactando gerações de seguidores e admiradores. Para Thiago Coutinho, um dos filhos do terreiro, a essência de Mãe Carmen, como uma verdadeira filha de Oxaguian, se manifestava em sua prontidão para a “boa guerra”, sempre em prol da evolução e da harmonia. Essa disposição para o embate em defesa de valores essenciais a tornou um farol, um guia espiritual para aqueles que buscavam direção e força. O velório de seu corpo aconteceu no próprio Terreiro do Gantois, em um ambiente de profunda comoção e respeito, reunindo familiares, amigos e membros da comunidade de santo para as últimas despedidas.

Continuidade e ancestralidade na fé
O impacto de Mãe Carmen é percebido na continuidade de sua obra, presente em cada filho e filha de santo que recebeu sua benção e seus ensinamentos. Thiago Coutinho enfatiza que, na religião dos orixás, a passagem não é o fim, mas um processo de ancestralização. Mãe Carmen, ao retornar para o Orum, perpetua sua existência como um grande farol a iluminar e conduzir. A Mameto Kamurici, líder espiritual do Terreiro São Jorge Filho da Gomeia, descreve a partida como um renascimento para a eternidade, convocando à união e à continuidade do legado do candomblé. Ela faz um apelo para que o espírito de Mãe Carmen seja acolhido e transformado em luz, garantindo que a herança do Gantois continue a brilhar. É um momento de reflexão profunda para todas as nações do candomblé, um chamado à solidariedade e à preservação da tradição em um dia de sentimento e união. O cortejo fúnebre, carregado de simbolismo e fé, seguiu no sábado para o cemitério Jardim da Saudade, em Salvador, por volta das 11h.

A rainha do Gantois: inteligência, elegância e diplomacia
A figura de Mãe Carmen de Oxaguian irradiava uma combinação notável de elegância, inteligência e uma rara capacidade diplomática. Para Mãe Cléo, escritora e ialorixá do Ilê Axé Opô Afonjá, Mãe Carmen foi uma presença solidária e memorável em diversos momentos de sua vida. Mãe Cléo carinhosamente a apelidava de “rainha da Inglaterra”, uma alusão ao seu porte, à sua elegância e ao penteado marcante, semelhante ao da Rainha Elizabeth II. Essa comparação sublinhava não apenas o aspecto físico, mas a perspicácia e a inteligência rápida de Mãe Carmen, evidenciada por seus olhos vivos. Sua capacidade de governar o Gantois com seriedade, aliando firmeza a uma postura diplomática, a consolidou como uma líder de profunda sabedoria e discernimento, respeitada por sua capacidade de gerir as complexidades de uma casa de axé histórica.

Uma presença marcante na cultura afro-brasileira
A influência de Mãe Carmen estendeu-se para além dos ritos do candomblé, consolidando-a como uma das grandes lideranças na formação dos pilares da cultura afro-brasileira. Sua memória, descrita como “incrível” por Mãe Cléo, refletia um conhecimento profundo das tradições e da história, que ela compartilhava e preservava com dedicação. O Terreiro do Gantois, sob sua liderança, continuou sendo um bastião de resistência cultural e espiritual. Mãe Carmen soube manter a chama acesa de um legado familiar e religioso, herdado de sua mãe, Mãe Menininha, garantindo que os valores de sua fé e cultura fossem transmitidos com autenticidade e força para as futuras gerações. Sua atuação foi crucial para a valorização e o respeito às manifestações religiosas de matriz africana no Brasil, deixando para trás não só duas filhas biológicas, três netos e quatro bisnetos, mas uma imensa família espiritual.

Homenagens de líderes e artistas: reconhecimento de uma vida dedicada
A notícia do falecimento de Mãe Carmen de Oxaguian mobilizou um amplo espectro da sociedade, com políticos e artistas prestando homenagens emocionadas. O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, publicou uma nota em suas redes sociais, destacando a importância do terreiro e a condução exemplar de Mãe Carmen como guardiã de uma ancestral tradição de espiritualidade e acolhimento. A Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, por meio do secretário Bruno Monteiro, classificou-a como uma das maiores lideranças na formação dos pilares da cultura afro-brasileira, garantindo que o legado da casa fundada por Mãe Menininha será eternamente preservado por seus descendentes espirituais. O prefeito de Salvador, Bruno Reis, também se manifestou, exaltando Mãe Carmen como “uma mulher de sabedoria e amor ao próximo”, sublinhando o reconhecimento de sua atuação em esferas sociais e políticas e o impacto que causou na vida dos soteropolitanos.

O impacto além dos muros do terreiro
Na classe artística, a perda de Mãe Carmen foi sentida profundamente. A renomada cantora Maria Bethânia utilizou suas redes sociais para expressar “profunda reverência”, publicando uma imagem da ialorixá que já havia servido de fundo de palco em seu show “Bethânia Caetano”, demonstrando a íntima conexão e admiração mútua. A apresentadora Regina Cazé, conhecida frequentadora do terreiro de Mãe Menininha, também externou seu pesar, compartilhando a saudade do acolhimento e da presença calorosa de Mãe Carmen. Essas manifestações de carinho e respeito por parte de figuras públicas ressaltam a amplitude da influência de Mãe Carmen, que transcendia as fronteiras da religião para tocar o coração e a mente de pessoas de diferentes backgrounds, consolidando sua imagem como um ícone nacional de fé, cultura e humanidade, cuja sabedoria e acolhimento farão falta a todos que tiveram o privilégio de conhecê-la ou ser inspirados por ela.

O renascimento para a eternidade e o chamado à união
A passagem de Mãe Carmen de Oxaguian para o Orum não é apenas um momento de luto, mas um convite à reflexão sobre a riqueza e a resiliência das tradições afro-brasileiras. Sua vida foi um testemunho vibrante da força do acolhimento, da perseverança na defesa de uma fé e da capacidade de inspirar mudanças positivas. As reverências e homenagens de familiares, líderes religiosos, políticos e artistas convergem em um único sentimento: a certeza de que Mãe Carmen se ancestraliza, transformando-se em uma fonte eterna de luz e sabedoria. Seu legado impulsiona a comunidade do candomblé a se unir, a fortalecer os laços de solidariedade e a garantir que os ensinamentos do Gantois e a sabedoria ancestral continuem a guiar o caminho das futuras gerações, perpetuando a memória de uma “guerreira” da paz e da fé que dedicou sua vida ao seu povo e à sua religião.

Perguntas frequentes (FAQ)

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Quem foi Mãe Carmen de Oxaguian?
Mãe Carmen de Oxaguian foi a ialorixá do Terreiro do Gantois, em Salvador, sucedendo sua mãe, Mãe Menininha do Gantois. Ela foi uma das mais importantes líderes espirituais do candomblé no Brasil, reconhecida por seu acolhimento, resistência e defesa da cultura afro-brasileira ao longo de 23 anos à frente da casa.

Qual o significado do seu legado para o Candomblé e a cultura afro-brasileira?
Seu legado é de continuidade, ancestralidade e inspiração. Mãe Carmen foi uma guardiã das tradições, uma “guerreira” pela paz e mudança, e uma figura diplomática que soube manter a seriedade e a elegância na condução do Gantois. Ela inspirou filhos e filhas de santo e contribuiu significativamente para a formação dos pilares da cultura afro-brasileira.

Onde foi velado o corpo de Mãe Carmen e para onde seguiu o cortejo fúnebre?
O corpo de Mãe Carmen de Oxaguian foi velado no Terreiro do Gantois, na Federação, em Salvador. O cortejo fúnebre seguiu no sábado para o cemitério Jardim da Saudade, com saída prevista por volta das 11h, em uma cerimônia que reuniu a comunidade e admiradores.

Quais personalidades prestaram homenagens a Mãe Carmen?
Diversas personalidades expressaram seu pesar, incluindo o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, o prefeito de Salvador, Bruno Reis, o secretário de Cultura do Estado, Bruno Monteiro, a cantora Maria Bethânia, a apresentadora Regina Cazé, e líderes religiosas como Mãe Cléo do Ilê Axé Opô Afonjá e Mameto Kamurici do Terreiro São Jorge Filho da Gomeia.

Para aprofundar-se no universo da fé afro-brasileira e nas figuras que moldam sua história, continue acompanhando nossas publicações e descubra mais sobre a riqueza cultural e espiritual do Brasil.

Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br

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