© Rovena Rosa/Agência Brasil

Júlio Lancellotti oferece almoço de natal a moradores de rua em São

ANUNCIO COTIA/LATERAL

No coração pulsante de São Paulo, o espírito do Natal se manifestou de forma especial para a população em situação de rua. A tarde de 25 de dezembro transformou a Casa de Oração do Povo de Rua em um santuário de acolhimento e esperança, culminando em um almoço festivo. O evento contou com a presença do Padre Júlio Lancellotti, figura emblemática e incansável defensor dos direitos dos mais vulneráveis, que anualmente se dedica a proporcionar momentos de dignidade e afeto a quem mais precisa. Em meio a um cenário de crescentes desafios e desigualdades sociais na metrópole, iniciativas como esta ressaltam a importância da solidariedade e da compaixão, reforçando o verdadeiro sentido do Natal: olhar para aqueles que muitas vezes são invisíveis à sociedade.

O evento e o significado do natal na Casa de Oração

Acolhimento e o papel do Padre Júlio Lancellotti

A chegada do Padre Júlio Lancellotti no início da tarde marcou o ápice da celebração na Casa de Oração do Povo de Rua. Em um ambiente de serena expectativa, Lancellotti conduziu uma oração, abençoando o alimento e as vidas ali presentes. A cena do almoço, com sua ordem respeitosa – as crianças sendo servidas primeiro, seguidas pelas mulheres e, por fim, os homens, em maior número –, ecoava a atmosfera de um almoço familiar, um raro momento de normalidade e comunhão para muitos. “Esse é o espírito do Natal, o sentido do Natal, acolher aqueles que ninguém acolhe, olhar para aqueles que ninguém olha”, expressou o padre, resumindo a essência de sua missão.

Apesar da alegria e da fartura, a grande quantidade de pessoas presentes trazia consigo um significado agridoce. Um local repleto de gente, embora sinônimo de abundância, também reflete a dura realidade de uma população em situação de rua cada vez maior na capital paulista. “Está sendo cada vez mais difícil a situação de polarização que a gente vive, a situação de desafio e de desigualdade. A situação é bem difícil porque o número da população de rua cada vez aumenta mais”, lamentou Lancellotti, evidenciando a complexidade do problema social que sua obra tenta mitigar. Contudo, em meio aos seus, o padre demonstrava um conforto genuíno, uma sintonia com aqueles que ele escolheu servir.

A estrutura de apoio e o trabalho voluntário

Muito antes da chegada do Padre Lancellotti, a Casa de Oração do Povo de Rua já fervilhava de atividade e de pessoas. Moradores de rua de diversas regiões da cidade convergiram para o local em busca de seu momento natalino. A Casa é um ponto de convergência de diversas infraestruturas de apoio, essencial para as cerca de 80 mil pessoas em situação de rua na capital, segundo o mais recente levantamento do Observatório da População de Rua.

A coordenadora Ana Maria da Silva Alexandre, com 26 anos de dedicação ao espaço, é uma das peças-chave dessa engrenagem de solidariedade. Ela e sua equipe de dez voluntários trabalham incansavelmente na cozinha, onde a preparação do almoço de Natal se une à rotina diária de servir centenas de pessoas. Após lavarem a louça do café da manhã, servido para aproximadamente cem indivíduos, os voluntários se dedicaram ao preparo do pernil, salada, farofa e arroz. Frutas e panetones também foram cortados e distribuídos ao longo da manhã, para aqueles que chegavam mais cedo e já sentiam a fome.

Além da alimentação, a Casa oferece um espaço de dignidade e pertencimento. Um presépio montado pelos próprios frequentadores adornava o ambiente, e um setor de roupas doadas disponibilizava peças de todos os tipos – masculinas, femininas e infantis – permitindo que cada um pudesse escolher o que precisava. “Para mim é maravilhoso ver que essas pessoas que não têm uma casa para ir hoje, não têm uma família, porque dia 25 é uma data muito feliz para quem tem família, estar com a família, mas muito triste para quem não tem, para quem passa sozinho na calçada. Então a casa, eles sabem que é um espaço que está aberto”, compartilhou Ana Maria, com a alegria estampada nos olhos. Ela vê os frequentadores como sua segunda família, enfatizando que o objetivo não é apenas saciar a fome, mas proporcionar um ambiente de interação, conversa, reencontros e, acima de tudo, esperança – a mensagem mais profunda do Natal, que se alinha com a própria história de Jesus, nascido sem teto.

Desafios e esperança nas ruas da metrópole

Reflexões sobre 2025 e a realidade da população de rua

O ano de 2025, para os voluntários da Casa de Oração, deixou lembranças de um período particularmente árduo. Ana Maria Alexandre refletiu sobre os desafios enfrentados: “Foi difícil, pelas coisas que a gente vê acontecendo. Muita reintegração de posse, muita gente que estava em ocupações e a gente vê voltando para a rua. O descaso. A Cracolândia, que dizem que acabou, mas que só foi empurrada para as periferias”. Suas palavras ressoam o sentimento de que, apesar dos esforços, as estruturas sociais continuam a falhar com os mais vulneráveis.

Entre os muitos que aguardavam o almoço, cada rosto contava uma história de luta e resiliência. Ronaldo, por exemplo, estava de volta às ruas há duas semanas, após alguns meses internado. Ele admitiu ter tido uma recaída este ano, quebrando uma abstinência de dez anos das drogas. “Foi um ano difícil, sabe. Mas vai melhorar”, disse ele, enquanto ajudava na montagem de kits com produtos de higiene e chinelos. Para as mulheres, havia bolsas e maquiagem doadas por comerciantes da região central, e brinquedos para as crianças, a serem distribuídos em breve.

Luna de Oliveira, uma mulher trans de 31 anos, e Emerson Ribeiro, servente de pedreiro, compartilhavam seu primeiro Natal juntos nas ruas. Onde dormir é uma preocupação constante. Eles haviam tentado vaga em quatro abrigos naquela semana, mas em todos encontraram a mesma dificuldade: a ausência de espaço para um casal. Luna relatou que o preconceito por ser uma mulher trans agrava sua situação, dificultando a busca por emprego. Emerson, que havia enfrentado o vício em crack, orgulhava-se de estar há mais de um mês sóbrio, atribuindo muito de sua força à companheira. Seu objetivo era conseguir um emprego em um canteiro de obras, onde sabe fazer massa e assentar piso, para que pudessem se reerguer e, juntos, realizar o sonho de sair da rua e casar.

Arlindo vendas de Apartamento

Luna, natural de Itaquera, está nas ruas desde que brigas familiares a levaram para o centro. Desenvolta, sonha em trabalhar com televisão e, atualmente, ganha algum dinheiro com materiais reciclados. Frequentadora da Casa de Oração desde 2017, ela já havia passado natais ali, mas Emerson não conhecia o espaço. “Está sendo maravilhoso para mim, eu estou muito feliz. Achei que eu ia passar o natal sozinha mas, graças a Deus, ele apareceu na minha vida”, contou Luna. “Trouxe ele para conhecer o Padre Júlio, para conhecer a coordenação, e a gente está sendo muito bem tratado aqui, graças a Deus”.

Nilton Bitencourt, nascido na zona norte da capital, foi parar nas ruas após a morte da mãe. Filho único, viu-se preterido no espólio e perdeu a casa onde viveu por mais de uma década. De volta a São Paulo, mergulhou nas drogas e passou a morar no centro. Para ele, este Natal estava “mais cheio aqui, mais famílias. Tá bonito”. Nilton trabalha na Rua 25 de Março descarregando caminhões e mora em barracas na região há quase uma década. Para o próximo ano, seu desejo era simples: arrumar uma ponte dos dentes que estava solta. “Espero que não seja caro, ninguém merece, mas não tem jeito, vou ter de arrumar isso”, disse, pronto para trabalhar novamente no dia seguinte.

Conclusão

O almoço de Natal de 2025 na Casa de Oração do Povo de Rua, em São Paulo, é um testemunho da persistente desigualdade social, do preconceito e da miséria que empurram tantos para as ruas. Contudo, é também um farol de esperança e resiliência, iluminado pela dedicação incansável de voluntários e, especialmente, pela liderança do Padre Júlio Lancellotti. As histórias de Ronaldo, Luna, Emerson e Nilton, embora distintas, convergem na busca por dignidade e uma nova chance. O evento transcende a simples oferta de uma refeição; ele representa um momento de humanidade compartilhada, de reconhecimento da existência e do valor de cada indivíduo. A mensagem final do Padre Lancellotti ressoa como um chamado à ação: “Enquanto a mudança não vem, seja diferente. Esteja com os pobres”.

Perguntas frequentes (FAQ)

O que é a Casa de Oração do Povo de Rua?
A Casa de Oração do Povo de Rua é um espaço em São Paulo que oferece acolhimento, alimentação e assistência social à população em situação de rua, funcionando como um ponto de apoio e dignidade para essas pessoas.

Quem é o Padre Júlio Lancellotti e qual o seu papel neste evento?
Padre Júlio Lancellotti é um sacerdote conhecido por seu trabalho humanitário e sua defesa incansável dos direitos da população em situação de rua. Ele participa ativamente de eventos como o almoço de Natal, oferecendo apoio espiritual e prático, e se tornando uma voz importante na luta contra a desigualdade.

Quantas pessoas estão em situação de rua em São Paulo, de acordo com as estimativas?
O levantamento mais recente do Observatório da População de Rua estima que existam cerca de 80 mil pessoas em situação de rua na cidade de São Paulo.

Como é possível ajudar a Casa de Oração do Povo de Rua ou iniciativas semelhantes?
É possível ajudar a Casa de Oração do Povo de Rua e outras iniciativas voltadas para a população em situação de rua por meio de voluntariado, doações de alimentos, roupas, produtos de higiene, ou contribuindo financeiramente. Entrar em contato direto com a instituição para saber das necessidades específicas é sempre o melhor caminho.

Acompanhe as notícias sobre as iniciativas do Padre Júlio Lancellotti e da Casa de Oração do Povo de Rua para descobrir como você também pode fazer a diferença na vida de quem mais precisa.

Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br

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