© Centro Cultural Banco do Brasi - SP

Joaquín Torres-García: obras de ancestralidade e o sul como norte no CCBB

ANUNCIO COTIA/LATERAL

O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) em São Paulo abriu as portas para uma marcante celebração dos 150 anos do nascimento de Joaquín Torres-García, o renomado artista uruguaio cuja visão redefiniu a perspectiva da arte latino-americana. A exposição, um evento cultural de grande envergadura, convida o público a uma imersão profunda na trajetória e no legado do criador do icônico mapa invertido da América do Sul. Com uma vasta coleção de aproximadamente 500 itens, entre obras e documentos, a mostra no CCBB São Paulo oferece uma rara oportunidade de explorar o “universalismo construtivo”, o estilo singular que Torres-García desenvolveu, e sua filosofia de buscar as raízes culturais como fonte de inspiração genuína, estabelecendo o “sul como norte” da criação artística.

Joaquín Torres-García: Um legado de vanguarda e o “nosso norte é o sul”
A trajetória de Joaquín Torres-García (1874-1949) é um testemunho da busca incessante por uma identidade artística autêntica e profundamente enraizada na cultura latino-americana. Nascido em Montevidéu, ele passou a maior parte de sua juventude e início da vida adulta na Europa, entre o final do século 19 e as primeiras décadas do século 20, período em que se conectou intensamente com os movimentos de vanguarda que moldavam a arte moderna. Sua mente inquieta e sua profunda sensibilidade o levaram a dialogar com correntes como o Cubismo, o Neoplasticismo e a arte abstrata, absorvendo influências, mas sempre com um olhar crítico sobre a reprodução passiva de tendências eurocêntricas.

Ao retornar a Montevidéu nos anos 1930, Torres-García empreendeu uma reviravolta fundamental em sua obra e pensamento. Longe de simplesmente aplicar as lições europeias, ele se dedicou a formular uma arte que brotasse da própria realidade e história latino-americana. Foi nesse período que consolidou sua filosofia do “universalismo construtivo”, um estilo que propunha uma síntese entre a ordem geométrica, a universalidade dos símbolos e a rica ancestralidade dos povos do continente. Sua visão era clara: a América do Sul não deveria ser um mero eco cultural, mas um centro de irradiação de uma arte original e potente, com voz própria no cenário global.

O manifesto do mapa invertido e a busca pela identidade
Um dos pilares do pensamento de Torres-García, e talvez sua mais famosa declaração visual, é a máxima “nosso norte é o sul”. Essa frase, mais do que uma inversão geográfica, é um manifesto profundo sobre a autonomia cultural e a reorientação de valores. Materializada em sua célebre obra “Mapa Invertido” de 1943, onde a América do Sul aparece com seu sul na parte superior, a ideia desafia a hierarquia imposta pelas representações cartográficas tradicionais, que historicamente posicionam o Norte Global como superior e central, perpetuando uma visão eurocêntrica do mundo.

Essa inversão simbólica propunha que os artistas latino-americanos deveriam olhar para dentro de si, para suas próprias raízes, mitos e formas ancestrais, em vez de seguir cegamente as tendências artísticas provenientes da Europa e dos Estados Unidos. Para Torres-García, o “sul como ponto de referência” significava valorizar a riqueza cultural indígena, as formas pré-colombianas e a espiritualidade intrínseca da região. Ele acreditava que a verdadeira originalidade residia na redescoberta e na reinterpretação dessas heranças, criando uma arte que fosse universal precisamente por ser profundamente local. A exposição destaca essa poderosa mensagem, apresentando o “Mapa Invertido” como um ícone da autoafirmação cultural e da busca por uma identidade própria.

A exposição no CCBB: Uma jornada pelo “universalismo construtivo”
A mostra em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo é uma oportunidade ímpar para o público brasileiro mergulhar no universo de Joaquín Torres-García. Com cerca de 500 itens distribuídos em quatro salas expositivas, a curadoria cuidadosamente planejou uma jornada que abrange desde as primeiras influências europeias do artista até a plena maturidade de seu “universalismo construtivo”. A vasta coleção inclui não apenas suas emblemáticas pinturas e desenhos, mas também manuscritos que revelam seu pensamento filosófico, maquetes arquitetônicas e os encantadores brinquedos de madeira que produziu, demonstrando a amplitude e a versatilidade de sua criatividade em diferentes mídias e linguagens.

Um dos pontos altos da exposição é a presença de obras que, pela primeira vez, deixam o acervo do Museo Torres-García em Montevidéu para serem exibidas no Brasil. Essa vinda inédita de peças fundamentais ressalta a importância da mostra e a colaboração internacional para celebrar o legado do artista. O curador da exposição, Saulo di Tarso, enfatiza a relevância do trabalho de Torres-García para a contemporaneidade: “Ele propunha esse olhar para as coisas mais ancestrais para que a gente voltasse para dentro da gente. É uma abstração que leva em conta a história interior da ancestralidade das pessoas. E nisso ele vai indo e, dentro dele, encontra conexão dos povos entre si”. Essa perspectiva sobre a ancestralidade como fonte de uma arte universal e interconectada é central para compreender a obra do uruguaio.

A forma geométrica e a conexão espiritual na arte de Torres-García
Aprofundando-se na análise das obras, Saulo di Tarso elucida a relação particular de Torres-García com a abstração e as formas geométricas. Diferente de alguns de seus contemporâneos europeus que buscavam uma abstração pura, distante da representação figurativa, Torres-García empregava a geometria como um meio de organização e simbolização, sem jamais perder o ponto de referência da figura ou da vida. Suas composições, embora muitas vezes estruturadas por grades e retângulos, frequentemente incorporam símbolos arquetípicos, figuras humanas estilizadas, peixes, barcos e casas, que remetem a uma linguagem universal e ancestral, profundamente conectada à experiência humana.

Para o artista, a abstração era um caminho para o “crescimento espiritual do ser humano”, uma forma de transcender o meramente visível e alcançar uma compreensão mais profunda da existência. Contudo, essa transcendência não significava desapego da realidade vivida ou da representação da existência. “Pro Torres-García o que fazia sentido na abstração era que a gente tinha, sim, que abstrair, porque isso é natural do crescimento espiritual do ser humano. Mas que, na arte, é preciso respeitar também a vida que está sendo retratada ali e que não necessariamente é algo que se fotografa, mas é algo que se transmite de espírito para espírito, entre todos os povos”, complementa o curador. Essa dualidade entre o abstrato e o figurativo, entre o universal e o particular, revela a profundidade de sua busca por uma arte que falasse à alma e à história coletiva dos povos.

Arlindo vendas de Apartamento

Conclusão
A exposição de Joaquín Torres-García no CCBB São Paulo transcende a mera retrospectiva artística; ela se estabelece como um convite à reflexão sobre identidade, ancestralidade e o papel da arte na construção de um olhar autônomo. Ao revisitar o legado de um dos maiores expoentes da arte latino-americana, o público é provocado a questionar as convenções geográficas e culturais, abraçando a visão de um “sul como norte” que inspira uma perspectiva única e valoriza as raízes do continente. Esta celebração dos 150 anos de seu nascimento é mais do que uma homenagem; é a reafirmação da relevância atemporal de sua obra e de sua mensagem de que a verdadeira universalidade emerge da autenticidade das próprias raízes. A mostra é um marco que enriquece o panorama cultural paulistano e inspira uma nova geração a olhar para o mundo com a sabedoria do sul.

Perguntas frequentes (FAQ)
1. Qual o período da exposição de Joaquín Torres-García no CCBB São Paulo?
A exposição estará em cartaz até 9 de março de 2025.

2. Onde está localizado o Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo e qual seu horário de funcionamento?
O CCBB São Paulo está situado no centro histórico da cidade e funciona todos os dias, exceto às terças-feiras. Recomenda-se verificar o horário específico no site oficial do CCBB.

3. A entrada para a exposição tem custo?
Não, a entrada para a exposição de Joaquín Torres-García é totalmente gratuita, oferecendo acesso democrático à arte e cultura para todos os visitantes.

Não perca a chance de vivenciar esta jornada artística inspiradora. Planeje sua visita ao CCBB São Paulo e explore o universo de Joaquín Torres-García.

Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br

Deixe uma resposta

Seu endereço de e-mail não será publicado.Os campos obrigatórios são marcados *

*

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.