Em 40 anos, São Paulo ampliou delegacias e tecnologia para acolher e proteger mulheres vítimas de violência.
Em 40 anos, São Paulo ampliou delegacias e tecnologia para acolher e proteger mulheres vítimas de violência.

DDM 40 anos: mulheres que protegem mulheres em SP

Ao longo dos últimos 40 anos, São Paulo se consolidou como a maior rede de proteção de mulheres vítimas de violência do país. Além da ampliação e expansão das Delegacias de Defesa da Mulher, o Estado avançou no uso de tecnologias para que mais mulheres se sintam seguras para denunciar e procurar ajuda. Por trás dessas iniciativas, existem diversas mulheres que trabalham sem parar para atender e acolher essas vítimas.

A evolução das delegacias da mulher é tema da série de reportagens 40 Anos de Proteção às Mulheres, produzida pela Agência SP. A agência de notícias oficial do Governo de São Paulo completa um ano neste mês, quando se promove também o Mês de Conscientização e Combate à Violência contra a Mulher.

 

Conheça a história de três mulheres que se destacam pelo trabalho na proteção e defesa de outras mulheres.

 

Cabo Raianne Cavalcante de Melo, uma das primeiras policiais da Cabine Lilás

A cabo Raianne Cavalcanti de Melo, 41 anos, participou da primeira turma de treinamento para trabalhar na Cabine Lilás da Polícia Militar. Há 12 anos na corporação, ela confessa nunca ter pensado em trabalhar com o que faz hoje em dia. “Foi algo que aconteceu aos poucos, muito naturalmente com as policiais envolvidas no projeto. É algo que eu me sinto privilegiada por fazer parte e cada dia que eu venho trabalhar, me sinto muito abençoada por poder ser a mão que é estendida para ajudar essas vítimas”, afirma.

Na Cabine Lilás, a policial explica que o trabalho é prestar apoio no pior momento dessas mulheres, após a agressão ou durante a violência sofrida. “A gente tem que fazer com que elas saibam dos direitos que têm, das formas que podem agir contra esse agressor. Mas como na Cabine Lilás o tratamento é totalmente feminino, a gente se coloca no lugar dela para acolhê-la da melhor forma possível. E é um serviço que a gente tem um cuidado especial para não revitimizá-las, para orientá-las da melhor forma possível, da forma mais sutil, para que elas não passem por aquilo novamente”, explica.

O trabalho inclui muitas vezes explicar quais são os diferentes tipos de violência que a mulher pode sofrer, que vai muito além de ser apenas a física. “Elas não conseguem identificar exatamente o que é aquela violência, mas se elas entram em contato com a gente, a gente ouve, entende a situação, consegue passar para elas que tipo de violência é aquela, como ela pode se proteger, se pode fazer um boletim de ocorrência, se pode solicitar uma medida protetiva, se pode solicitar um afastamento do lar. A gente esclarece todos os tipos de violência que elas estão passando”, explica.

A policial afirma que desde que começou a atuar na Cabine Lilás, recebe retorno de mulheres que ajudou. São mensagens ou ligações, às vezes dias, semanas ou meses depois, falando que aquela ligação salvou a vida delas. “Quando elas me retornam, me sinto como se eu tivesse ajudando uma irmã, uma prima, alguém da minha família. E fico muito feliz de saber que de certa forma, eu não fiz apenas o meu papel de policial militar. Eu ajudei uma outra mulher a passar por essa situação”, ressalta.

 

Gabriela Duó, delegada da 8ª Delegacia de Defesa da Mulher. Foto: Divulgação/Governo de SP

Gabriela Duó, delegada de polícia da 8ª DDM

Aos 28 anos, Gabriela Duó é a integrante mais jovem da equipe da 8ª Delegacia de Defesa da Mulher, da capital paulista, localizada na zona leste. Aprovada no último concurso da Polícia Civil, a delegada é uma das responsáveis pela unidade que atende cerca de dois milhões de pessoas.

Ser policial era um desejo de criança. “Principalmente delegada de polícia, porque eu já gostava da causa feminista, da causa da mulher e de crianças e adolescentes. De tal modo, com a aprovação no concurso, de prontidão já quis assumir uma DDM e fazer plantão para lidar justamente com esses casos mais urgentes, que surgem no curso de uma madrugada fria, quando a cidade está dormindo e tem uma mulher apanhando, tem uma criança sendo vítima de crime sexual e a gente precisa intervir de maneira eficaz para interromper esse ato e já iniciar os atos de justiça social”, afirma.

A delegada explica que todos os dias chegam casos diversos, às vezes até 20 ocorrências. Mas é no fim de semana que os casos de prisão em flagrante crescem, acompanhados dos registros de violência.

Para ela, a atuação da Delegacia de Defesa da Mulher ultrapassa a de ser apenas um policial. “Às vezes a mulher chega aqui e simplesmente quer chorar, quer contar a história da vida dela e a gente não pode simplesmente ter um olhar frio da ocorrência, pegar simplesmente a lesão corporal, a ameaça ou a injúria, deixando de lado esse ponto social”, explica.

Gabriela Duó destaca que ocupar um cargo de delegada de polícia enquanto mulher é desafiador. “Por vezes a gente vai fazer interrogatório de um indivíduo e percebe o machismo na forma como ele nos trata. Eu já tive ocorrências que o acusado não olhava para mim para responder as perguntas, olhava para o meu investigador porque era homem. Se eu, enquanto autoridade policial, sou vítima de machismo, quanto mais as suas respectivas mulheres no interior de suas residências que, inclusive, com quesitos de carência social, financeira, por vezes, dependendo do homem, sem ter para quem recorrer”.

Para ela, ser delegada de polícia é uma missão de vida, uma realização e uma motivação para continuar lutando e combatendo a violência e machismo contra as mulheres.

 

Mariana da Silva Ferreira, médica-legista e assistente técnica da Superintendência da Polícia Técnico-Científica. Foto: Divulgação/Governo de SP

Mariana da Silva Ferreira, médica-legista e assistente técnica da Superintendência da Polícia Técnico-Científica

Há 16 anos, a médica legista Mariana da Silva Ferreira dedica sua carreira à produção de provas periciais que podem mudar o rumo das investigações criminais. Durante uma década, ela atuou na Sexologia Forense, atendendo vítimas de estupro pelo programa Bem Me Quer, na capital paulista. Hoje, como assistente técnica da Polícia Científica de São Paulo, Mariana coordena as demandas relacionadas à violência doméstica e sexual em todo o Estado.

“Quando a mulher decide denunciar, nós somos um elo importante dessa trajetória”, explica. “O exame de corpo de delito é uma prova técnica e material que auxilia a Justiça a comprovar a violência. É algo concreto, que ajuda a penalizar o agressor.”

Entre os avanços mais recentes, Mariana celebra um ano da implantação da Sala Lilás no Instituto Médico Legal da zona oeste da capital. O espaço foi pensado para receber mulheres vítimas de violência doméstica em um ambiente separado da recepção geral, com mais privacidade, segurança e conforto. “Muitas chegam com crianças, cansadas e vulneráveis. A sala oferece um local acolhedor, onde podem aguardar o exame longe de outros tipos de perícia”, conta.

Para Mariana, o diferencial não está apenas na estrutura, mas na capacitação das equipes para oferecer um atendimento humanizado. “Não é uma violência comum. É uma violência muito complexa, que exige empatia e escuta atenta. O acolhimento faz toda a diferença.”

O compromisso com a causa vem da trajetória pessoal e acadêmica da médica. Após anos atendendo casos de violência sexual, ela buscou especialização em sexualidade humana para aprimorar o olhar sobre a violência de gênero. “Eu me sinto lisonjeada por poder melhorar o atendimento às mulheres que chegam em busca de ajuda. Não quero que saiam daqui apenas com um laudo, mas com a sensação de que foram bem tratadas.”

Para Mariana, cada iniciativa de acolhimento, como a Sala Lilás, é mais que um recurso físico: é um símbolo de que a instituição está atenta e comprometida em combater e prevenir a violência contra a mulher. “Quando a gente mostra que está preocupado em aprimorar o atendimento, isso reflete positivamente na sociedade como um todo,” afirma.

SP Por Todas

O SP Por Todas é um movimento promovido pelo Governo do Estado de São Paulo para ampliar a visibilidade das políticas públicas para mulheres, bem como a rede de proteção, acolhimento e autonomia profissional e financeira para elas. Essas frentes estão nos pilares da gestão e incluem soluções como o lançamento do aplicativo SPMulher Segura, que conecta a polícia de forma direta e ágil caso o agressor se aproxime; e a criação de novas salas da Delegacia da Defesa da Mulher 24 horas. Mais informações www.spportodas.sp.gov.br

 

Fonte: Agência de Notícias do Governo do Estado de São Paulo

Foto: Agência SP

 

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