A comunidade religiosa afro-brasileira e a cultura nacional lamentam o falecimento de Mãe Carmen Oxaguian, a respeitada ialorixá do centenário Terreiro do Gantois, em Salvador, Bahia, que nos deixou aos 98 anos. A notícia da partida da matriarca, ocorrida na última sexta-feira, dia 26, gerou uma onda de comoção e homenagens em todo o país. Entre as primeiras manifestações de pesar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a primeira-dama, Janja, expressaram profunda tristeza. Mãe Carmen, cujo nome civil era Carmen Oliveira da Silva, foi uma figura emblemática, dedicando mais de duas décadas à liderança espiritual de um dos mais importantes templos de candomblé do Brasil, deixando um legado inestimável de fé, tradição e resistência cultural. Sua influência transcendeu os limites do terreiro, impactando a sociedade brasileira de diversas formas.
O legado de Mãe Carmen e a tristeza nacional
O falecimento de Mãe Carmen Oxaguian marca o fim de uma era para o Candomblé e para a preservação das raízes africanas no Brasil. A ialorixá, que por mais de 20 anos esteve à frente do Ilé Ìyá Omi Àse Ìyamase, conhecido universalmente como Terreiro do Gantois, em Salvador, foi uma guardiã incansável da tradição. Sua liderança não apenas manteve viva a chama da espiritualidade ancestral, mas também consolidou o terreiro como um bastião de cultura e resistência religiosa, um farol para milhões de praticantes e admiradores. A notícia de sua partida ressoou em diversos setores da sociedade, evidenciando o profundo respeito e carinho que ela conquistou ao longo de sua vida dedicada à fé e à comunidade.
A voz do presidente e a espiritualidade ancestral
Em uma carta de pesar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a primeira-dama Janja expressaram o luto oficial pela perda da ialorixá. Lula destacou a importância da liderança de Mãe Carmen, afirmando que ela “liderou com muito amor, por mais de 20 anos, um dos mais importantes terreiros de candomblé do Brasil”. O presidente enfatizou o papel da matriarca na preservação e cultivo da tradição ancestral, que foi transmitida a ela por figuras históricas como Mãe Menininha do Gantois e outras matriarcas. Segundo o presidente, Mãe Carmen manteve “acesa a chama da espiritualidade africana que fez uma nova casa no Brasil e permeou a cultura e o coração dos brasileiros”. Essa declaração sublinha não apenas o reconhecimento de sua importância religiosa, mas também o impacto cultural e social de sua vida, que se estendeu muito além dos muros do terreiro, influenciando a identidade nacional com valores de acolhimento, resistência e fé. A menção ao “compromisso sagrado” reflete a seriedade e a devoção com que Mãe Carmen abraçou sua missão.
Homenagens e o impacto cultural
A partida de Mãe Carmen Oxaguian provocou uma enxurrada de homenagens de personalidades e instituições, reforçando o reconhecimento de sua estatura não apenas como líder religiosa, mas como uma figura de inquestionável relevância cultural e social. As mensagens de pesar destacam sua capacidade de inspirar, acolher e liderar através do exemplo, consolidando o legado de sabedoria e firmeza espiritual que ela deixou para as futuras gerações. O Terreiro do Gantois, sob sua batuta, não foi apenas um espaço de culto, mas um centro vibrante de preservação de uma herança imaterial preciosa para o Brasil.
Repercussão entre líderes e artistas
A ministra da Cultura, Margareth Menezes, utilizou suas redes sociais para prestar tributo a Mãe Carmen, ressaltando os valores intrínsecos à sua liderança. “Tive o privilégio de conhecê-la como autoridade espiritual, mas também como uma grande mulher de fé que cultivou amor, acolhimento e a força de quem lidera pelo exemplo”, declarou a ministra. Suas palavras ecoam a admiração de muitos que tiveram contato com a ialorixá, reconhecendo nela uma figura que inspirava pela sua conduta e pela profundidade de sua fé.
O Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania também divulgou uma nota de pesar, solidarizando-se com a comunidade do Gantois. O comunicado enfatizou que a partida de Mãe Carmen representa “uma grande perda para o povo de santo, para a Bahia e para o país”, e que sua vida permanecerá como um “legado de sabedoria, firmeza espiritual e compromisso com a ancestralidade”. Essa perspectiva institucional realça a dimensão da perda, abrangendo não apenas a esfera religiosa, mas também a cultural e cívica.
O universo artístico, frequentemente conectado às raízes afro-brasileiras, também lamentou a morte da líder religiosa. O renomado músico Gilberto Gil foi um dos artistas que se manifestou, recordando Mãe Carmen como a filha mais nova de Mãe Menininha do Gantois. “Partiu hoje deixando muitas saudades. Descanse em paz! Que Obatalá nos proteja”, escreveu Gil, em uma mensagem que transmite não só o pesar pessoal, mas também o respeito pela linhagem e pela proteção dos orixás. As manifestações evidenciam o vasto alcance da influência de Mãe Carmen e o profundo vazio deixado por sua ausência.
Uma vida dedicada à fé e à tradição
Mãe Carmen Oxaguian, cujo nome religioso carregava a energia de Oxaguiã, o orixá do branco e da criação, dedicou sua vida ao Candomblé e à preservação de suas complexas tradições. Sua jornada no Ilé Ìyá Omi Àṣẹ Ìyámase, o Terreiro do Gantois, começou muito antes de assumir a liderança, enraizada desde sua infância. Sua vida é um testemunho da profunda conexão entre a espiritualidade africana e a formação da identidade cultural brasileira.
Trajetória e despedida de uma matriarca
Nascida Carmen Oliveira da Silva em 29 de dezembro de 1926, ela viu a luz pela primeira vez dentro da própria Casa do Candomblé, um berço que prenunciava seu destino de dedicação à fé. Sua iniciação nas tradições do Candomblé ocorreu aos sete anos de idade, mergulhando-a desde cedo nos rituais, cantigas e na sabedoria ancestral que moldariam sua existência. Ao longo das décadas, ela cultivou um conhecimento profundo das práticas e filosofias do candomblé, tornando-se uma referência incontornável.
Assumindo o comando do Terreiro do Gantois em 2002, Mãe Carmen deu continuidade a uma linhagem de matriarcas poderosas, seguindo os passos de figuras lendárias como Mãe Menininha do Gantois, sua mãe. Sua liderança foi marcada pela firmeza espiritual, pela sabedoria e pelo compromisso inabalável com a ancestralidade. Mesmo como contadora aposentada, sua verdadeira vocação e missão de vida se revelaram na guia espiritual de sua comunidade, honrando e protegendo um patrimônio imaterial de valor inestimável.
Mãe Carmen deixou para trás um legado familiar de duas filhas, três netos e quatro bisnetos, perpetuando a força de sua linhagem. O velório da matriarca se estendeu até este sábado, dia 27, em Salvador, permitindo que fiéis, amigos e admiradores prestassem suas últimas homenagens. O sepultamento na capital baiana marcou o adeus físico a uma das mais importantes ialorixás do Brasil, mas sua memória, sua força e seus ensinamentos permanecem vivos, ecoando nos tambores do Gantois e nos corações de todos aqueles que valorizam a rica tapeçaria da cultura afro-brasileira.
O adeus a uma guardiã da fé brasileira
A morte de Mãe Carmen Oxaguian não é apenas o fim de uma vida longa e dedicada, mas o encerramento de um capítulo significativo na história do Candomblé e da cultura brasileira. Sua trajetória como ialorixá do Terreiro do Gantois, sucedendo matriarcas de grande renome, a consolidou como uma figura central na manutenção das tradições ancestrais africanas em solo brasileiro. As homenagens de autoridades políticas, líderes religiosos e artistas sublinham a dimensão de seu impacto, não só para os adeptos do Candomblé, mas para a nação como um todo, que reconhece nela uma guardiã da identidade e da espiritualidade. Seu legado de amor, acolhimento e compromisso com a ancestralidade continuará a inspirar e a guiar as futuras gerações, perpetuando a chama da fé e da cultura que ela tão bravamente acendeu e manteve viva.
FAQ
Quem foi Mãe Carmen Oxaguian?
Mãe Carmen Oxaguian foi uma das mais importantes ialorixás do Brasil, líder espiritual do centenário Terreiro do Gantois, em Salvador, Bahia. Seu nome civil era Carmen Oliveira da Silva, e ela dedicou mais de 20 anos de sua vida à frente do terreiro, preservando as tradições do Candomblé e a espiritualidade ancestral africana.
Qual a importância do Terreiro do Gantois?
O Terreiro do Gantois (Ilé Ìyá Omi Àse Ìyamase) é um dos mais antigos e respeitados terreiros de candomblé do Brasil. Fundado no século XIX, é um marco histórico, religioso e cultural, conhecido por sua linhagem de matriarcas poderosas, como Mãe Menininha e Mãe Carmen, e por sua relevância na manutenção e difusão das tradições religiosas africanas no país.
Quais foram as principais manifestações de pesar pela morte de Mãe Carmen?
Diversas personalidades e instituições manifestaram pesar, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a primeira-dama Janja, a ministra da Cultura Margareth Menezes, o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, e o músico Gilberto Gil. Todos destacaram o legado de sabedoria, amor, acolhimento e o compromisso de Mãe Carmen com a ancestralidade.
Para aprofundar-se na história e no legado das matriarcas do Candomblé, explore mais sobre a rica cultura afro-brasileira e seu impacto na formação do Brasil.
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