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Cotas da uerj: vinte anos transformando vidas e abrindo portas

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A política de cotas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), pioneira na adoção de cotas sociais e raciais no vestibular em 2003, completa 22 anos impactando profundamente a vida de seus estudantes. Henrique Silveira, ex-aluno cotista e atual subsecretário de Tecnologias Sociais da prefeitura do Rio, expressa o impacto transformador dessa política em sua trajetória, permitindo que ele ascendesse de suas origens humildes em Imbariê, na Baixada Fluminense.

Em 2028, a legislação sobre o sistema de cotas da Uerj passará por uma segunda revisão, com a instituição buscando conectar egressos e mapear suas trajetórias profissionais. Para isso, promoveu um encontro de ex-alunos na reitoria, no final de novembro.

Henrique, formado em geografia, iniciou seus estudos em 2006 e avalia a política de cotas como essencial. Ele se identifica como um exemplo de mobilidade social proporcionada pela política, que o retirou de uma realidade de trabalho braçal para o ambiente universitário, oferecendo-lhe uma vida melhor.

Maiara Roque, dentista, relembra seu ingresso na Uerj em 2013 e os desafios enfrentados como cotista negra. Apesar de ter entrado na universidade dez anos após a implementação das cotas, ainda enfrentou questionamentos. Ela destaca a importância de adquirir um sentimento de pertencimento e de demonstrar que merecia estar ali. As críticas iniciais à política de cotas raciais questionavam a capacidade dos alunos, mas pesquisas posteriores demonstraram que não havia diferença de rendimento entre cotistas e não cotistas.

As cotas também contribuíram para acelerar a redução da desigualdade no acesso ao ensino superior entre pretos, pardos e brancos. Em 2022, segundo o IBGE, 11,7% dos estudantes pretos e 12,3% dos pardos possuíam nível superior, embora esses percentuais ainda representem menos da metade da taxa observada entre brancos (25,8%).

Maiara, que cursou odontologia com o apoio da mãe, destaca que o ingresso na Uerj transformou sua visão de mundo e influenciou sua atuação profissional. Após trabalhar no sistema prisional e na rede básica de saúde, ela abriu um consultório em sua comunidade, a Penha, onde se sente realizada em oferecer atendimento de qualidade e sem julgamentos para seus pacientes.

Diferentemente das universidades federais, a Uerj cruza dados de autodeclaração racial com critérios socioeconômicos, visando facilitar o acesso ao ensino superior para pessoas de camadas sociais menos favorecidas. Através desse modelo, 32 mil estudantes ingressaram na instituição.

No entanto, estudantes avaliam que o recorte socioeconômico impõe barreiras, especialmente na pós-graduação. Atualmente, o limite de renda bruta por pessoa na família é de R$ 2.277, valor considerado baixo para muitos cursos.

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David Gomes, ex-aluno de história, ingressou na Uerj em 2011 por meio de cotas. Vindo de escola pública e morador do Complexo da Penha, ele ressalta que a oportunidade representou uma nova perspectiva de vida, permitindo que trilhasse uma trajetória acadêmica e profissional que gerou novas oportunidades.

Ativista pelos direitos humanos, David defende o fim da exigência de critério socioeconômico para ingresso por cotas na Uerj. Ele argumenta que o atual recorte de renda dificulta o acesso à pós-graduação.

Para discutir a política de cotas, egressos propõem a coleta e divulgação de dados sobre o impacto da medida, começando pela criação de uma rede de ex-alunos. Henrique, como geógrafo, destaca a importância dos dados para a formulação de políticas públicas.

Ele também pede a redução da burocracia para comprovar o perfil socioeconômico e o apoio a pré-vestibulares populares. Ele ressalta a importância do pré-vestibular em sua conscientização sobre sua identidade racial.

A Lei 8.121, de 2018, define a política de ações afirmativas da Uerj, destinando 20% das vagas para cotas raciais, incluindo indígenas e quilombolas. Outros 20% das vagas são reservadas para estudantes de escolas públicas que cursaram integralmente o ensino médio na rede pública. A lei também permite acumular a bolsa-auxílio com outras, como a bolsa de iniciação científica, melhorando as condições de permanência.

Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br

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