© Tânia Rêgo/Agência Brasil

Cacique raoni clama por continuidade da luta ao fim da cúpula dos povos

A Cúpula dos Povos, evento que ocorreu paralelamente à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), foi encerrada neste domingo com uma mensagem do cacique Raoni Metuktire. A liderança indígena, que há décadas alerta o mundo sobre a destruição ambiental, das florestas e dos modos de vida dos povos originários, exortou os participantes a persistirem na luta.

“Há muito tempo, eu vinha alertando sobre o problema que, hoje, nós estamos passando, de mudanças climáticas, de guerras”, declarou Raoni, clamando pela defesa da vida na Terra e do planeta. Ele pediu que se lute contra aqueles que desejam o mal e a destruição do planeta, e criticou os conflitos globais, instando ao respeito mútuo e à paz.

Após cinco dias de debates, mobilizações e manifestações, a Cúpula dos Povos culminou com um “banquetaço” na Praça da República, em Belém, onde cozinhas comunitárias distribuíram alimentos, seguido por uma celebração cultural aberta ao público.

No encerramento, foi lida uma carta final que criticava as “falsas soluções” para a crise climática, defendendo um internacionalismo popular baseado em trocas de conhecimentos, solidariedade e cooperação entre os povos. O documento enfatizou a importância de experiências desenvolvidas nos territórios e o compromisso de fortalecer essas construções.

O documento foi entregue ao presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, que prometeu apresentá-lo nas reuniões de alto nível da COP. A carta também destacou o papel central do feminismo no projeto político, colocando o trabalho de reprodução da vida no centro, diferenciando-se de sistemas econômicos que priorizam o lucro.

A carta final da Cúpula dos Povos identifica o sistema capitalista como a principal causa da crise climática e denuncia o impacto desproporcional sobre comunidades periféricas, mencionando o racismo ambiental. Empresas transnacionais dos setores de mineração, energia, armas, agronegócio e tecnologia são apontadas como responsáveis pela catástrofe climática.

Entre as demandas apresentadas na carta estão a demarcação de terras indígenas, a reforma agrária, o fomento à agroecologia, o fim do uso de combustíveis fósseis, o financiamento público para uma transição justa, a taxação de corporações e dos mais ricos, o fim das guerras e uma maior participação dos povos na construção de soluções climáticas.

O documento também critica o avanço da extrema direita, do fascismo e das guerras, defendendo a Palestina e seu povo, repudiando o genocídio e apoiando o movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS). A ação militar dos Estados Unidos no Caribe, sob o pretexto de guerra ao narcotráfico, também foi alvo de críticas, sendo considerada uma ameaça imperialista a povos e países da região e da África.

A Cúpula dos Povos reuniu aproximadamente 70 mil pessoas de movimentos sociais, povos originários, camponeses, indígenas, quilombolas, pescadores, trabalhadores urbanos, sindicalistas, população em situação de rua, povos de terreiro, mulheres, comunidade LGBTQIAPN+, jovens, afrodescendentes, idosos e representantes de diversas comunidades.

O evento, que começou no dia 12, paralelo à COP30, questionou a falta de participação popular na COP30. As organizações e movimentos participantes criticaram a omissão de países e tomadores de decisão, especialmente dos países ricos, em relação às soluções para a crise climática, alertando para o risco de não se atingir a meta de 1,5°C do Acordo de Paris.

Na abertura da Cúpula, uma “barqueata” foi realizada na orla de Belém, com centenas de barcos navegando pela Baía do Guajará em defesa da Amazônia e dos povos tradicionais. Um dia antes do encerramento, aproximadamente 70 mil pessoas participaram da Marcha Mundial pelo Clima, manifestando a diversidade cultural e social do povo amazônico.

Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br

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