Usuários da Cracolândia seguem espalhados pelo Centro de SP; governo considera dispersão um ‘sucesso’

A Polícia Civil de São Paulo realizou na tarde desta quinta-feira (2) mais uma operação no ponto de concentração de usuários de droga da Cracolândia, na esquina da Rua Helvétia com a Avenida São João, no Centro. Com isso, os dependentes químicos seguem se espalhando pela região.

Durante a operação desta tarde, todos os dependentes químicos que estavam no local foram revistados e liberados. Moradores do Centro criticam as ações de dispersão dos dependentes químicos.

“O que eu gostaria de questionar é que se tomassem medidas que realmente resolvam a situação na Cracolândia e não fiquem passando de bairro para bairro. É uma questão de segurança, mas também é uma questão de saúde, é uma questão social, uma questão educacional”, afirmou uma moradora que prefere não ser identificada.

A Prefeitura de São Paulo e a polícia alegam que as operações estão trazendo resultados e consideram a dispersão como sendo um sinal de sucesso das operações.

Na madrugada desta quinta-feira (2), moradores do Centro presenciaram quebra-quebra e confusão na Cracolândia. Vídeos registrados por quem reside na região mostram um grupo de pessoas atirando pedras e objetos contra carros que passavam pela Avenida São João. Portas de estabelecimentos também foram depredadas. Nas imagens, é possível ver viaturas da polícia circulando pelas vias.

Nos últimos meses, os usuários passaram a se espalhar pelo Centro após as ações da polícia de São Paulo.

No dia 27 de maio, a policia utilizou um veículo blindado com atiradores de elite, além das viaturas numa operação no mesmo local. Questionada sobre a presença do carro blindado e dos atiradores, a Secretaria da Segurança Pública afirmou, por meio de nota, que “o veículo blindado é usado frequentemente em operações realizadas na região, por questões estratégicas”.

Atiradores de elite em veículo blindado da polícia durante ação na cracolândia nesta sexta. — Foto: Reprodução/TV Globo

Desde quando foram retirados da Praça Princesa Isabel pela polícia, os usuários de droga já ocuparam diferentes endereços: a Praça Marechal Deodoro; a Rua Helvétia, entre a Rua Barão de Campinas e a Avenida São João, e também na esquina da Avenida São João com a Rua Frederico Steidel.

No dia 25 de maio, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), disse que as autoridades têm a situação da Cracolândia “sob controle”, apesar das constantes migrações do chamado “fluxo”, que têm tirado o sossego dos moradores dos bairros de Santa Cecília e Campos Elíseos.

“Nós estamos sufocando o tráfico de drogas e a organização criminosa por consequência, e paralelamente a Prefeitura e o governo do estado estão aumentando, otimizando a assistência social e de saúde pública”, afirmou Roberto Monteiro, delegado responsável pelas operações.

Mas quem atua há anos como voluntário na região vê nessa estratégia uma repetição de ações que não deram certo. “O que está acontecendo é uma proposta de cansaço, tentativa de extermínio e, quem sabe, uma tentativa de internação. É isso que está acontecendo. Esse projeto não funciona, não funcionou em 2012, não funcionou em 2017 e não vai funcionar agora”, afirma Raphael Escobar da A Craco Resiste.

Para o pesquisador em administração pública da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Giordano Magri, a violência usada na região Central só atrapalha. “As estratégias com essa população passam necessariamente pelo estabelecimento de vínculos, de uma relação do poder público com essas pessoas. E a violência é um fator que atrapalha muito a construção desse vínculo e dessa relação. É preciso que tenha alternativa de tratamento, mas também alternativa de geração de renda, alternativa de moradia, de trabalho”.

A Secretaria Municipal de Segurança Urbana informou que o tumulto da madrugada foi controlado pela Guarda Civil e disse ainda que ninguém se machucou e também que ninguém foi preso.

Denúncia em Corte dos Direitos Humanos

Polícia Civil e Guarda Civil Metropolitana de SP fizeram nesta quinta-feira (19) uma nova operação na região da Cracolândia.  — Foto: Bruno Rocha/Enquadrar/Estadão Conteúdo

A deputada Érica Malunguinho (PSOL) protocolou nesta quinta-feira (26) uma denúncia na Corte Interamericana de Direitos Humanos em que acusa o Brasil de violar a Convenção Americana de Direitos Humanos com as operações da polícia contra usuários de drogas na região da Cracolândia.

A deputada argumentou que as intervenções policiais e as operações de limpeza pela prefeitura fazem com que o chamado “fluxo” da Cracolândia se intensifique e se espalhe por diversas regiões.

Rua no Centro de SP após nova operação policial contra o tráfico de drogas na região da nova Cracolândia, nesta quinta (19) — Foto: Bruno Rocha/Enquadrar/Estadão Conteúdo

A deputada encaminhou um requerimento para a comissão solicitando uma medida cautelar para determinar que o Estado proteja e assegure os direitos da população em situação de rua, especialmente das que vivem na Cracolândia.

A denúncia também pede que sejam adotadas medidas necessárias para proteger a vida, a integridade pessoal e a saúde, bem como o direito à posse e à propriedade de bens e documentos pessoais.

Fonte: G1

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