Roubos e furtos de celulares na Avenida Paulista mais do que dobram neste ano

Os furtos e roubos de celulares na região da Avenida Paulista mais do que dobraram nos primeiros quatro meses deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo dados do Departamento de Pesquisas em Economia do Crime (Depec), da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), compilados a pedido do g1.

A maior variação ocorreu nos roubos de celulares, que ocorrem quando há algum tipo de ameaça ou agressão contra a vítima. Este tipo de crime subiu 150,18% de janeiro a abril deste ano, em comparação com 2021. O mês de abril teve o maior aumento, com um crescimento de 255,77% em relação ao mesmo mês do ano passado.

O número de furtos de celulares também cresceu no primeiro quadrimestre deste ano, em relação ao mesmo mês do ano anterior, segundo os boletins de ocorrência analisados pelos pesquisadores. O mês de março foi o que apresentou a maior variação: um aumento de 135,77%.

Os pesquisadores mapearam os locais dos registros por meio de um estudo dos boletins de ocorrência, obtidos junto à Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo. Os dados consideram registros na própria avenida e também em ruas do entorno.

Ainda que os dados mostrem aumento na criminalidade, as estatísticas não necessariamente refletem o cenário real, porque muita gente não presta queixa contra esses crimes, segundo os pesquisadores da Fecap. Além disso, muitos registros são feitos sem o endereço completo do local da ocorrência, o que impede a visualização dos locais em um mapa.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) declarou que aumentou o policiamento em toda a cidade e que, na região da Paulista, “realiza operações específicas nos locais de maior incidência criminal”.

No último dia 18 de maio, o estudante Filipe Santos da Silva foi vítima de um crime desse tipo, em uma escada de acesso à estação Trianon-Masp, da Linha 2-Verde do Metrô. Filipe contou que foi abordado por dois rapazes, que pediam seu celular e sua mochila, e prensado contra a parede. Durante a tentativa de assalto, ele tomou uma facada na mão.

“Me seguraram contra a parede e tentaram pegar minha mochila e o celular. Um deles estava armado com uma faca, ou um canivete. Eu estava com um amigo, que desceu as escadas correndo e começou a gritar pela segurança do Metrô”, contou.

Imagens mostram ferimento na mão de jovem que sofreu tentativa de assalto na estação Trianon-Masp, da Linha 2-Verde do Metrô de São Paulo — Foto: Reprodução/Redes sociais

Imagens mostram ferimento na mão de jovem que sofreu tentativa de assalto na estação Trianon-Masp, da Linha 2-Verde do Metrô de São Paulo

Depois da ocorrência, ele passou a sentir sintomas de ansiedade quando precisa passar pela Avenida Paulista.

“Eu fico com uma sensação de ansiedade quando eu passo lá agora. O coração dispara, a mão suando bastante, enfim, é um sintoma de ansiedade. Ficou aquele medo de circular lá, mas também tenho a necessidade de circular ali ainda. Então você sai porque você precisa, não porque você quer”, disse.

Violência urbana

Embora os dados analisem, especificamente, os roubos de celulares, pessoas que circulam pela avenida disseram que os roubos de outros objetos também tem ocorrido com frequência. Furtos de correntes, colares, relógios, bolsas e carteiras foram relatados à reportagem.

Funcionária de uma banca de jornal na esquina da Rua Teixeira da Silva, Maria Araújo, de 32 anos, viu uma idosa ser roubada na última semana na frente de um mercado.

“Ela estava com uma sacola de chocolates, tinha acabado de sair da loja. Levaram de uma vez, pegaram da mão dela”, contou.

Na banca de jornal da Maria, muita gente entra só para poder usar o celular, com medo de tirar o aparelho do bolso na calçada.

Essa sensação de insegurança também tem tirado o sono dos integrantes da Associação Paulista Viva, que reúne comerciantes e empresários da região.

Movimentação de pessoas em frente ao MASP, na Avenida Paulista nesta tarde de domingo (13 de março), em São Paulo — Foto: BRUNO FERNANDES/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Movimentação de pessoas em frente ao MASP, na Avenida Paulista nesta tarde de domingo (13 de março), em São Paulo

“Nos últimos 30 dias já deu para perceber um numero mais intenso de viaturas, de militares, na Avenida Paulista em vários horários, porque a gente tá recebendo as demandas e passa para a PM. Estamos todos muito preocupados, mas tentando ter uma estratégia para coibir”, disse Lívio Giosa, presidente da associação.

O grupo arrecadou recursos para instalar novas câmeras em edifícios ao longo de toda a avenida. A ideia é formar um corredor com câmeras de alta resolução.

“Com isso a gente vai ter uma informação muito mais ágil para passar para a PM. Faz um mês que estamos discutindo essa proposta, conversando com os administradores dos prédios, começando a instalar as câmeras. O funcionamento total deve começar em cerca de 90 dias”, explicou Giosa.

Novos boulevards

Apesar do aumento da criminalidade na região da Avenida Paulista, duas propostas devem mudar a cara da via nos próximos meses. Os projetos querem transformar duas travessas da avenida em “boulevards” para pedestres.

A Prefeitura de São Paulo publicou, no último mês, dois editais de requalificação para a região: um para a Rua Leôncio de Carvalho, no Paraíso, entre os prédios do Itaú Cultural e do Sesc Av. Paulista; e outro para o entorno da Alameda Rio Claro, na Bela Vista, nos arredores do novo empreendimento Cidade Matarazzo.

A ideia é que as duas ruas tenham trechos exclusivos para pedestres, recebam novo mobiliário urbano, e se transformem em espaços de convivência. No entanto, a onda de assaltos, muitas vezes com abordagens violentas, assusta os frequentadores da avenida, que reúne escritórios, comércios e diversas atrações turísticas (veja as principais no mapa abaixo).

Mapa da Avenida Paulista, em São Paulo (SP), mostra principais pontos turísticos e projeto de duas novas praças — Foto: Arte/g1

Além disso, a criação dos editais não quer dizer que os projetos vão sair do papel em breve. No caso da proposta da Bela Vista, uma das entidades interessadas no chamamento público da prefeitura já pediu – e conseguiu, na última segunda-feira (30), – a impugnação do certame, o que pode atrasar as entregas.

Enquanto as mudanças não começam, os visitantes da avenida mais famosa da cidade relatam uma perene sensação de insegurança, e dizem que as reformas precisam ser acompanhadas de melhorias na segurança pública.

“Não vai adiantar nada uma praça nova se não tiver uma base policial junto. Vai virar um novo ponto de assaltantes”, disse a advogada Paloma Oliveira, de 29 anos.

Paloma trabalha na região e já viu três colegas de escritório serem furtados na esquina da Rua Leôncio de Carvalho com a Avenida Paulista.

Novos ‘boulevards’

Os projetos de requalificação vão abordar duas ruas que fazem esquina com a Paulista. A primeira, a Alameda Rio Claro, na Bela Vista, já tem um trecho exclusivo para pedestres, justamente quando encontra a avenida – este pedaço da via também é conhecido como Alameda das Flores.

Mas, após abrigar uma feirinha gastronômica, o local ficou abandonado durante a pandemia, e voltou a funcionar, recentemente, com apenas algumas barraquinhas de comida e food trucks.

Trecho da Alameda Rio Claro conhecido como Alameda das Flores, na esquina com a Avenida Paulista, região central de São Paulo, tem barraquinhas de comida e food trucks — Foto: Patrícia Figueiredo/g1

Agora, o projeto é reformar completamente não apenas a área para pedestres, mas também a continuação da via, que vai até a rua Pamplona, e uma quadra das ruas Santo Antônio do Pinhal e Itapeva.

O edital prevê a instalação de mobiliário urbano com design dos Irmãos Campana, composto por bancos, mesas, cadeiras e vasos, além de cerca de 37 quiosques e bancas para criar um mercado de produtos orgânicos e de alimentação. O espaço deve ganhar, ainda, Wi-Fi gratuito e novo paisagismo, com espécies nativas.

Para a auxiliar de limpeza Juscelia Costa, de 34 anos, é importante que o projeto também melhore o escoamento no trecho da Alameda Rio Claro que é exclusivo para pedestres.

“Quando chove, fica tudo alagado e a gente tem que andar em cima do canteiro de flores. À noite, fica escuro, porque esses postes não acendem, e direto fica sujo”, contou.

Sujeira e calçamento desnivelado em trecho da Alameda Rio Claro, esquina com a Rua São Carlos do Pinhal, no entorno da Avenida Paulista, região central de São Paulo — Foto: Patrícia Figueiredo/g1

Para Juscelia, a reforma também precisa aumentar os espaços de convivência, com mais mesas e bancos. Moradora do Itaim Paulista, no extremo da Zona Leste, ela passa mais de duas horas no transporte público para chegar até o trabalho, na Avenida Paulista.

“Falta um lugar para sentar, tinha que ter mais mesa e cadeira porque aí a pessoa fica mais tempo, né? E Wi-fi também era bom, pra gente ficar na hora do nosso intervalo”, disse.

Com o nome Sua Rua, a proposta está em fase de chamamento público. No entanto, no último dia 30, a entidade São Paulo Capital da Diversidade, organização sem fins lucrativos vinculada ao Cidade Matarazzo que propôs o projeto à prefeitura, pediu a impugnação do edital.

Trecho exclusivo para pedestres da Alameda Rio Claro, entre a Avenida Paulista e a Rua São Carlos do Pinhal, em São Paulo — Foto: Patrícia Figueiredo/g1

Trecho exclusivo para pedestres da Alameda Rio Claro, entre a Avenida Paulista e a Rua São Carlos do Pinhal, em São Paulo

Segundo uma representante da entidade, a impugnação é apenas uma formalidade e serve para pedir esclarecimentos à prefeitura.

“Quando existem dúvidas no processo, com relação a itens que não se fizeram claros no edital, cabe o questionamento, que pode se dar através da impugnação. Então o motivo, simplesmente, é para esclarecimentos”, declarou Adriana Levisky, diretora do Levisky Arquitetos, escritório autor do projeto de requalificação.

Em nota, a prefeitura de SP disse que “o chamamento público foi suspenso no último dia 30 para ajustes no Edital nº 01/2022-SP-URB/SUB-SÉ” e “será republicado em breve e os prazos para o chamamento público devolvidos em sua integralidade”.

Conexão de centros culturais

Movimentação na Rua Leôncio de Carvalho, entre o Sesc Avenida Paulista e o Itaú Cultural, nesta terça-feira (24), na Zona Sul de São Paulo — Foto: Carol Balza/Divulgação/Sesc Av Paulista

Movimentação na Rua Leôncio de Carvalho, entre o Sesc Avenida Paulista e o Itaú Cultural, nesta terça-feira (24), na Zona Sul de São Paulo

Outro edital em curso para a região da Paulista tem como alvo a Rua Leôncio de Carvalho, que fica entre dois importantes centros culturais: o Sesc Avenida Paulista e o Itaú Cultural.

A requalificação desta rua foi proposta pelo próprio Sesc, que submeteu a ideia à prefeitura em 2013. O projeto visa conectar as duas instituições e transformar a esquina em um espaço de cultura e convivência.

Perspectiva de reforma da rua Leôncio de Carvalho, entre o Sesc Av Paulista e o Itaú Cultural, após projeto de requalificação — Foto: Divulgação/Sesc

Perspectiva de reforma da rua Leôncio de Carvalho, entre o Sesc Av Paulista e o Itaú Cultural, após projeto de requalificação

Caso o Sesc e o Itaú Cultural vençam a concorrência aberta pela prefeitura, eles devem bancar, juntos, as obras e a manutenção da nova praça. A previsão é a de que a reforma tenha início ainda neste ano, em outubro, e seja finalizada até março de 2023.

Com novo mobiliário urbano, plantas e bancos, o espaço deve ganhar ainda exposições temporárias e gratuitas, promovidas pelos centros culturais vizinhos.

A reforma também deve nivelar a altura da calçada e da rua, integrando os dois espaços, e restringir o acesso da Leôncio de Carvalho à Avenida Paulista para veículos essenciais, como ambulâncias – mudança que foi aprovada pela CET, em estudo técnico.

Apesar do fechamento da rua, o tráfego local ainda será permitido no resto da via: vai ser possível acessar, de carro, os prédios comerciais que ficam no mesmo quarteirão e o ponto de táxi localizado na esquina com a Alameda Santos (veja na imagem abaixo).

Projeção de reforma da rua Leôncio de Carvalho, travessa da Avenida Paulista, na Zona Sul de São Paulo — Foto: Reprodução/Sesc

Projeção de reforma da rua Leôncio de Carvalho, travessa da Avenida Paulista, na Zona Sul de São Paulo

Em entrevista ao g1, frequentadores da região disseram que são a favor do projeto, mas se dizem preocupados com a criminalidade na área.

Para a advogada Paloma Oliveira, que trabalha em um prédio vizinho ao Itaú Cultural, a reforma só será bem-vinda se for acompanhada de um reforço na segurança pública na região. Ela teme que a nova praça se transforme em um novo alvo para os assaltantes.

Fachada do Itaú Cultural, na Avenida Paulista, ao lado da Rua Leôncio de Carvalho, na Zona Sul de São Paulo — Foto: Edouard Fraipont/Divulgação/Itaú Cultural

Fachada do Itaú Cultural, na Avenida Paulista, ao lado da Rua Leôncio de Carvalho, na Zona Sul de São Paulo

Em nota, o diretor do Itaú Cultural disse que a ideia é que a proposta de reforma esteja “em sintonia” com o público da região.

“Esse trecho da via será repactuado de modo a se tornar palco de acolhimento do público para programação ao ar livre, o que inclui atividades de arte. O importante é estar em sintonia com a vizinhança para essa proposta e em diálogo com o público, aumentando a sinergia com as pessoas para ressignificar o espaço urbano”, disse Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural.

Veja a nota completa da SSP:

A SSP está atenta aos indicadores criminais e realiza ações específicas para reforçar o policiamento na região da Avenida Paulista e em toda a Capital. A pasta dobrou o número de policiais nas ruas com a Operação Sufoco, que visa combater a criminalidade e melhorar a sensação de segurança da população. Até o momento, mais de 3,4 mil pessoas foram detidas e 200 armas de fogo ilegais retiradas das ruas. Especificamente na região da Avenida Paulista, além das ações de policiamento ostensivo da PM, a Polícia Civil, por meio do 78º DP (Jardins) e da 1ª Seccional, realiza operações específicas nos locais de maior incidência criminal. A Operação Mobile também é deflagrada na área do 78º DP para coibir roubos e furtos de celulares. Somente neste ano, 257 celulares foram apreendidos na região central e 105 autores de roubos, furtos e receptação dos aparelhos, presos. A pasta reforça, ainda, a importância do registro de boletim de ocorrência dos casos. A notificação é essencial para orientar o policiamento nas ruas e possibilitar investigações para a detenção dos autores. Além das unidades territoriais, o registro pode ser feito pela Delegacia Eletrônica: (delegaciaeletronica.policiacivil.sp.gov.br). Todos os casos registrados são investigados.

Fonte: G1

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